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Saúde | 10.06.19 - 17h07

Agentes de Saúde Ambiental do Recife são treinados para usar nova técnica de controle do Aedes aegypti

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A capital pernambucana vai implantar projeto da Fiocruz Amazônia que usa os próprios mosquitos para disseminar larvicida em criadouros. (Foto: Ikamahã/SesauPCR)



A partir da próxima quarta-feira (12), a Prefeitura do Recife começará a utilizar mais uma técnica para controle do mosquito Aedes aegypti – transmissor da dengue, chikungunya e zika. O projeto, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia e o Ministério da Saúde, consiste na instalação de cerca de 700 Estações Disseminadoras de Larvicidas (EDs), que são armadilhas em que os próprios mosquitos espalharão o larvicida nos criadouros. O lançamento do projeto da Fiocruz Amazônia no Recife foi nesta segunda-feira (10), no Centro de Vigilância Ambiental (CVA), em Peixinhos. Recife está entre as dez primeiras capitais do Brasil a usar as EDs.

Nestas segunda e terça-feira (11), 70 Agentes de Saúde Ambiental e Controle de Endemias (Asaces) da Secretaria de Saúde do Recife estão sendo treinados pela Fiocruz Amazônia, que desenvolveu o projeto, sobre os procedimentos de instalação e manutenção das EDs, assim como estão aprendendo os procedimentos de registro de dados e informações. Na quarta, a partir das 8h, os profissionais vão a campo para fazer a instalação das primeiras armadilhas.  O primeiro local a receber as EDs será o bairro de Casa Amarela, na zona Norte do Recife. 

As Estações Disseminadoras são baldes plásticos, cobertos com panos impregnados do larvicida Pyriproxyfen, que precisam conter água para atrair as fêmeas dos mosquitos. O gerente de Vigilância Ambiental do Recife, Jurandir Almeida, explicou que o princípio da tática é a utilização dos próprios Aedes aegypti para disseminar o produto nos criadouros. “Quando um mosquito adulto pousa na superfície da armadilha, partículas do larvicida aderem ao corpo do inseto e este dissemina o veneno para outros criadouros, quando vai depositar os ovos”.

Segundo o pesquisador da Fiocruz Amazônia Joaquín Cortés, uma das vantagens do uso dos próprios mosquitos na disseminação do produto é que eles podem atingir até mesmo os criadouros que estão em locais de difícil acesso, como em calhas de telhados. “O larvicida impede o desenvolvimento normal dos mosquitos imaturos, que morrem no estágio de larva ou pupa. O Pyriproxyfen não tem efeitos letais imediatos nos mosquitos adultos, mas encurta a vida das fêmeas e impede o desenvolvimento dos ovos fecundados”, disse o coordenador técnico do projeto.Receberão as Estações Disseminadoras de larvicidas casas, escolas, unidades de saúde e outros estabelecimentos em bairros como Ipsep, Água Fria, Cajueiro, Campina do Barreto, Fundão, Ponto da Parada, Hipódromo, Encruzilhada,  Linha de Tiro, Casa Amarela, Jordão, Ibura, Dois Unidos, Imbiribeira, entre outros. As áreas foram escolhidas a partir do cruzamento de dados como índice de infestação do mosquito e risco de adoecimento.

As Estações Disseminadoras devem ficar em lugares protegidos, preferencialmente na área externa das casas, como quintais, áreas de serviço, garagens, varandas etc. Uma vez por mês, os Agentes de Saúde Ambiental e Controle de Endemias (Asaces) da Secretaria de Saúde do Recife visitarão os imóveis onde estão instaladas as estações para verificar o nível de água do pote e aplicar mais produto no tecido. O morador deve observar semanalmente o nível de água da Estação Disseminadora e acrescentar mais, quando necessário. O Pyriproxyfen não apresenta riscos à saúde humana ou a de animais domésticos.

Para a diretora-executiva de Vigilância à Saúde, Joanna Freire, a nova técnica permitirá inviabilizar o desenvolvimento de novos mosquitos em locais de difícil acesso para os agentes de endemias. “A diferença para a ovitrampa, que é uma armadilha de monitoramento e controle, é que o próprio mosquito vai levar esse larvicida para outros criadouros que muitas vezes não conseguimos ver com facilidade”, explicou a gestora.

De acordo com o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, o uso das Estações Disseminadoras é uma estratégia que vem complementar as outras ações desenvolvidas na capital pernambucana, como as cerca de três mil ovitrampas instaladas em cerca de 50 bairros da cidade. As armadilhas permitem o monitoramento da população dos mosquitos Aedes aegypti e conseguem eliminar cerca 280 mil ovos por quinzena.  Outras medidas são as Brigadas Contra o Aedes aegypti, que treinam a sociedade civil para engajá-la na identificação e eliminação de focos, além do Centro de Mosquitos Estéreis (Cemer), que busca conter a reprodução do mosquito transmissor da dengue esterilizando os machos e liberando-os no meio ambiente.

“Graças a todas essas estratégias, ao importante trabalho desenvolvido pelos Asaces e ao engajamento da população, o Recife está na contramão do Brasil, com o menor índice de infestação do mosquito da última década e reduzindo os números de casos de arboviroses quando, no País, os casos de dengue aumentaram 149% em comparação com 2018. Mas não podemos baixar a guarda na vigilância porque não estamos livres da possibilidade de novos surtos e epidemias”, defendeu o secretário.

Segundo o Joaquín Cortés, o estudo desse projeto teve início em 2015 nas cidades de Manaus e Manacapuru, no Amazonas. “Temos conseguido reduzir significativamente a população de mosquitos nas cidades que já têm o projeto, com impacto epidemiológico nos casos de dengue. O mosquito, que sempre foi visto como nosso inimigo, agora será nosso aliado”, explicou o pesquisador da Fiocruz Amazônia. Entre as cidades que receberam as EDs estão Manaus, Boa Vista, Belo Horizonte, Goiânia, Natal e Fortaleza.

DADOS - Em 2019, até o dia 1º de junho, foram notificados 1.732 casos de arboviroses no Recife, sendo 1.469 casos de dengue, 220 de chikungunya e 43 de zika. Dentre estas notificações, foram confirmados 502 casos de dengue, 35 de chikungunya e 2 de zika. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, houve uma redução de 10,5% dos casos notificados e de 30% dos casos confirmados. Até o momento, foram notificados oito óbitos suspeitos por arboviroses - três foram descartados para arboviroses e cinco permanecem em investigação. No Recife, o último Levantamento Rápido do Índice de Infestação para Aedes aegypti (LIRAa) apresentou resultado geral de 1,7% (risco médio).