Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas Sobre Drogas -SDSDHJPD

NOTÍCIAS

Direitos Humanos | 25.08.17 - 12h23

PCR discute ações de prevenção ao genocídio da juventude negra

img_alt

Um grupo de trabalho formado por dez secretarias está elaborando um plano de ações integradas para prevenção à violência contra jovens negros no Recife (Foto: Inaldo Lins/PCR)

 

 

Com o objetivo de realizar ações integradas de prevenção e enfrentamento ao aumento da violência contra jovens negros na capital pernambucana, a Prefeitura do Recife criou um grupo de trabalho para elaborar o Plano de Promoção dos Direitos Humanos e do Enfrentamento ao genocídio da Juventude Negra do Recife. De acordo com dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), de junho de 2016 a junho deste ano, foram mortos 522 jovens (15 a 29 anos) na cidade. Desse total, 514 são negros e pardos (98%).

Por causa do número expressivo de mortes de jovens negros nas comunidades Novo Detran, na Iputinga, e Vila Santa Luzia e Abençoada por Deus, na Torre, a expectativa é implementar o plano piloto nessas três áreas da Região Político-Administrativa 4 (RPA 4). Sob o comando da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos, o Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Genocídio da Juventude Negra envolve dez secretarias da Prefeitura do Recife.

O objetivo é articular políticas públicas intersetoriais para reduzir as vulnerabilidades sociais dos jovens negros em decorrência do racismo, colaborando para a redução dos índices de violência nessas três comunidades. “Esse GT é uma das metas prioritárias da gestão municipal, sendo monitorado mensalmente pelo prefeito Geraldo Julio. Para que o resultado aconteça, precisamos da participação efetiva de todas as secretarias envolvidas”, disse Marconi Muzzio, chefe de Gabinete do prefeito, ao comandar a reunião do grupo na última quarta-feira (23). O próximo encontro do grupo será na tarde da quinta-feira (31), no 6º andar do edifício-sede da Prefeitura.

A gerente de Igualdade Racial do Recife, Girlana Diniz, destacou a importância da escolha do termo genocídio ao invés de extermínio. A palavra significa destruição total ou parcial de um grupo étnico, de uma raça ou religião através de métodos cruéis ou eliminação de povos com utilização de, entre outras coisas, condições subumanas de vida. “Adotamos esse termo por entender que o que acontece com os jovens negros é genocídio. Não se morre só de tiros, mas também por causa da ausência de políticas públicas específicas. Esse reconhecimento do fator racial é estruturante para as políticas públicas do nosso município”, disse a gestora, destacando que mais de 50% da população recifense é negra e parda e, historicamente, esse segmento é afetado por processos de violência e negação de direitos.

A secretária-executiva de Juventude do Recife, Camila Barros, explicou o trabalho que tem sido desenvolvido pelo GT desde fevereiro. “Realizamos visitas técnicas nos três territórios e fizemos formações para sensibilizar os profissionais das áreas de saúde e assistência social da rede municipal; tudo alinhado com o Programa de Combate ao Racismo Institucional da Prefeitura do Recife. Também realizaremos formações para a rede municipal de ensino. Fizemos ainda rodas de diálogo com jovens nos territórios para sentir o sentimento da juventude que vive nessas comunidades, pois é imprescindível escutá-los”, disse a secretária-executiva que coordena a ação.

A coordenadora da Política de Saúde da População Negra do Recife, Rose Santos, comentou que a população erradamente associa a morte de jovens negros ao envolvimento com drogas, quando a causa é de natureza muito mais social, ligada ao racismo. “Enquanto não compreendermos o racismo como algo estrutural, vamos continuar tendo dificuldade para enfrentar os problemas sociais”.

DADOS - De acordo com o Mapa da Violência 2016, a taxa de homicídios de negros aumentou de 9,9% para 27,4% no Brasil, entre 2003 e 2014. De acordo com o levantamento, morrem duas vezes mais negros que brancos vitimados por arma de fogo. As principais vítimas de armas de fogo são os jovens (de 15 a 29 anos de idade).

Em Pernambuco, a chance de um jovem negro ser morto é onze vezes maior que a de um branco da mesma idade. O Estado tem a sétima maior taxa de homicídios de população negra do Brasil. Com uma população de mais de 400 mil jovens segundo o último censo do IBGE, o Recife está entre os 132 municípios onde mais morrem jovens negros no Pais.