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Em um momento emocionante, o teatro Santa Isabel recebeu diversas mulheres, de diversas partes da cidade, para celebrar com uma ópera inédita e um documentário sobre os cem anos de Júlia Santiago, a primeira vereadora do Recife, na noite desta quinta (9). Promovido pela Secretaria da Mulher do Recife junto a Secretaria da Mulher de Pernambuco, o centenário da tecelã teve com objetivo debater a participação feminina nos espaços de poder.

Abrindo o evento, o público pode assistir ao documentário Júlia, uma operária da luta, com roteiro de Guido Bianchi e direção de Raoni Moreno. O filme narra a trajetória da vereadora no contexto sociopolítico em que ocorreu, mostrando como articulou greves nas fábricas têxteis, seu envolvimento com a política e a luta pela aposentadoria com idades diferentes para homens e mulheres. Em seguida, foi a vez da apresentação da ópera "Júlia, a tecelã", com regência e direção do maestro Wendell Kettle.

Os músicos da Academia de Ópera e Repertório da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Sinfonieta UFPE apresentaram um belíssimo espetáculo. Dividida em seis cenas, a obra lírica trouxe episódios representativos da vida da personagem: sua vinda para a capital pernambucana, o trabalho nas fábricas de tecelagem, a liderança e o engajamento no mundo político. A luta da pioneira pela igualdade de direitos norteou a obra.

A ópera emocionou a catadora de materiais recicláveis, Ariane Durack, que entrou pela primeira vez no Santa Isabel naquela noite. "Gostei muito da mensagem, da luta pela igualdade dos gêneros. Ela era uma lutadora. O mundo está precisando de mulheres assim". Junto a Ariane, havia uma comitiva da Cooperativa EcoVida Palha de Arroz.
Diversas mulheres do grupo Sereias Teimosas, de Brasília Teimosa, estavam no evento. Usuárias do Centro da Mulher Metropolitana Júlia Santiago saíram do teatro mais orgulhosas ainda da homenageada. " Achei belíssimo. A ópera mostrou uma mensagem linda, a história dela", disse Edite de Lima. "Agora é que eu vou lá no Júlia mesmo, já que eu a conheço mais", comentou.

Segundo a secretária da Mulher, Cida Pedrosa, a iniciativa municipal reforça o comprometimento da gestão com a luta das mulheres. "Essa mulher rompeu barreiras no tempo, individual e na política. Só 32 anos depois, uma mulher entrou na Casa José Mariano. A gente precisa mudar esse quadro, não existe salto civilizatório sem a participação de nós mulheres em todos os espaços de poder", pontuou a gestora na abertura do evento. Sílvia Cordeiro, secretária da Mulher de Pernambuco, ressaltou que estados que criam políticas públicas voltadas para as mulheres ajudam a dar visibilidade e empoderam. Junto às secretárias municipais, compareceu o secretário de Cultura de Pernambuco, Marcelino Granja.

A programação continua nesta sexta (10), às 20h, no Santa Isabel. Os ingressos estarão disponíveis duas horas antes do início do espetáculo na bilheteria do Teatro de Santa Isabel. O espetáculo é gratuito e aberto ao público.

JÚLIA SANTIAGO - Júlia Santiago viveu à frente do seu tempo. Engajada na luta sindical e política, tornou-se a primeira mulher a ocupar um assento na Câmara Municipal do Recife, em 1947. Filha de camponeses, ela nasceu em São Lourenço da Mata, em novembro de 1917. Alfabetizou-se na fábrica têxtil onde começou a trabalhar aos 12 anos.

Militante comunista, ajudou a fundar o Sindicato da Fiação e Tecelagem de Pernambuco e ingressou no Círculo Operário Católico do Recife. Vanguardista, defendeu que homens e mulheres deveriam ter tempos de serviço diferentes para se aposentar, alegando que o trabalho doméstico se constituía numa jornada dupla para elas. Falecida em 1988, Júlia Santiago deixou um grande legado às mulheres: seu exemplo de luta, coragem, consciência acerca dos direitos da classe trabalhadora e inconformismo diante das injustiças e desigualdades sociais.