Reflexões sobre racismo marcam abertura da 5ª Jornada de Direitos Humanos do Recife
“A favela é preta. O presídio é preto. As cozinhas e as calçadas seguem o mesmo padrão. Senzalas dos tempos modernos. “Cabelos crespos presos, cachos alisados”. “Morreu porque estava em atitude suspeita, correndo pra pegar o ônibus”. “Cadê as pretas nos contos de fadas? Branca de Neve, Cinderela, Bela Adormecida, Rapunzel, Chapeuzinho Vermelho. Nenhum conto de fadas trazia a mulher negra como princesa. Nas telenovelas também ainda não sou protagonista; sou vilã, empregada... Enquanto isso, a pele preta continua estampada nas páginas policiais dos jornais”. As provocações da atriz e escritora Odailta Alves fizeram o público refletir sobre o racismo e a importância das políticas afirmativas na peça Clamor Negro, encenada na abertura da 5ª Jornada de Direitos Humanos do Recife (JDH), no Museu da Abolição, na Madalena, nesta segunda-feira (20), quando se celebra o Dia da Consciência Negra.
"Desde 2013, escolhemos iniciar a jornada neste dia tão importante de resistência e luta porque a questão da discriminação racial ainda é muito forte na nossa sociedade, mesmo a gente estando em pleno século 21. Os altos índices de homicídio de jovens negros estão aí para mostrar o quanto ainda precisamos de ações afirmativas. Temos lutado para que o acesso às políticas públicas seja igual para todos, para que tenhamos uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna”, disse Ana Rita Suassuna, secretária de Desenvolvimento Social, Juventude, Drogas e Direitos Humanos do Recife.
Já a gerente de Igualdade Racial do Recife, Girlana Diniz, destacou as áreas da Prefeitura do Recife que cuidam mais diretamente das políticas públicas para a população negra. Ela lembrou do Programa de Combate ao Racismo Institucional da PCR, lançado em 2014; do Grupo de Trabalho em Educação das Relações Étnico Raciais (Gterê), que trabalha a questão da igualdade racial na rede municipal de ensino do Recife; da Coordenação da Política de Saúde da População Negra na Secretaria de Saúde, que trabalha em cima das doenças que mais acometem a população negra; do Núcleo de Cultura Afro-Brasileira na Secretaria de Cultura; do Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Genocídio da Juventude Negra e do Núcleo de Gênero e Raça Ajè Negras, voltado à promoção dos direitos das mulheres negras nas políticas públicas, entre outros. “É importante que a gente desconstrua o preconceito e o racismo nos diversos espaços, seja na escola, na literatura, no nosso ambiente de trabalho”, defendeu Girlana.
Na manhã desta terça-feira (21), a Gerência de Igualdade Racial do Recife promoverá uma oficina sobre o genocídio da juventude negra na sede da empresa Ensino Social Profissionalizante (Espro), no bairro de Santo Antônio. Na manhã da quarta (22), das 9h às 12h, haverá uma roda de diálogo sobre racismo institucional, no Paço do Frevo, no Bairro do Recife. A programação completa está disponível no site da Prefeitura do Recife.
Além das discussões sobre igualdade racial, os debates abordarão as mais diversas temáticas relacionadas aos direitos humanos: os direitos da criança e do adolescente, das pessoas idosas, das mulheres, das pessoas com deficiência, da população LGBT; direito à educação, ao lazer e à saúde, entre outros. A 5ª JDH tem mais de 50 ações em todas as seis regiões da cidade, até o dia 10 de dezembro, quando se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
A programação inclui palestras, rodas de diálogo, oficinas, espetáculos, emissão de documentos, cine-debates e mutirão de empregabilidade para pessoas com deficiência. A JDH é organizada pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife, em parceria com diversas outras pastas da Prefeitura do Recife. O tema da quinta edição da jornada é “Passos à frente rumo à cidadania”.
» Confira a programação completa da 5ª Jornada de Direitos Humanos no site da Prefeitura do Recife