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Cultura | 23.12.14 - 16h43

Noite de brincadeiras marca despedida dos alunos da Escola Municipal Córrego da Bica

Mais de 60 alunos que deixam a unidade este ano passaram a noite na escola, participando de atividades voltadas à cultura indígena. (Foto: Cortesia)


A simulação de uma oca na entrada da Escola Municipal Córrego da Bica, em Passarinho, já indicava o tema do encontro deste ano, realizado na noite dessa segunda-feira (22): Indígenas Brasileiros. Há cinco anos, a unidade de ensino promove o evento Uma noite na biblioteca, que é uma festa de despedida dos alunos que concluíram o 5° ano e irão cursar o 6° ano em outra escola, já que a Córrego da Bica tem apenas turmas da Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Mais de 60 estudantes passaram a noite na escola participando de atividades voltadas à cultura e aos costumes dos índios. Integrantes da tribo Funi-ô, uma das 12 comunidades indígenas reconhecidas em Pernambuco, levaram ensinamentos sobre cultura, costumes e crenças dos índios, além de desconstruírem vários preconceitos sobre as tribos.

As atividades começaram às 19h, a parada para o descanso foi às 2h30 e o café da manhã foi servido às 5h30 desta terça-feira (23). Às 8h os pais começaram a buscar os filhos. Durante a noite, os estudantes assistiram ao filme Tainá - A origem, tiveram uma ceia só com alimentos da cultura indígena, como tapioca e bolo de milho; fizeram pinturas em cerâmica, realizaram pesquisas em grupo para apresentar a todos e participaram de brincadeiras indígenas, como cabo de guerra, bola de gude e peteca.

Na abertura do encontro, a gestora da escola, Anaílse Moura, ressaltou a importância do estudo da cultura indígena. “Estudamos a cultura do índio, assim como a dos negros, ao longo de todo o ano, e não apenas em datas comemorativas. Por isso pensamos em retomar o assunto neste dia de despedida. A noite é dedicada a atividades lúdicas, para que eles lembrem desse dia com muito carinho”.

O indígena Boró desejou boas festas a todos no idioma funi-ô e falou da importância do ensino da cultura indígena nas escolas. “A maioria dos brasileiros carrega a genética indígena no sangue. Muita gente não sabe que cultivamos, no nosso dia a dia, costumes, hábitos e vocabulário indígena, como, por exemplo, o hábito de nos alimentarmos com comidas feitas de milho”, contou. Ele disse ainda que Pernambuco tem a terceira maior população indígena e o único idioma vivo do Nordeste. Além dos ensinamentos de Boró, os estudantes também conheceram as índias Sesily e Txinia, respectivamente Carmem e Luiza, na língua portuguesa. Os alunos executaram uma dança típica conduzida pelas duas.

O secretário-executivo de Tecnologia na Educação da Secretaria de Educação do Recife, Francisco Luiz dos Santos, destacou a importância de ações como esta na Rede Municipal de Ensino do Recife e ainda contribuiu com ensinamentos sobre a cultura indígena. “Os índios tinham conhecimentos sobre a terra, o céu e água que os portugueses não tinham. Quando Cristóvão Colombo chegou ao Brasil, os índios já conheciam as estrelas do Cruzeiro do Sul, ainda desconhecida para os portugueses”, explicou.

Uma das alunas que participou da despedida foi Maria Eduarda Souza de Andrade, 11 anos. “Eu sempre gostei de todas as atividades aqui da escola e adorei essa noite”. Já o irmão gêmeo dela, Renan Victor Souza de Andrade, estava mais saudoso pelos laços criados com os docentes. “Vou sentir falta de todas as professoras. Gosto muito delas”, contou.

Além de envolver os alunos, professores e funcionários, o encontro também conta com a ajuda dos pais dos estudantes. Este é o caso de Edilza Cristina de Souza, mãe dos gêmeos. “Meus filhos estudam aqui desde a Educação Infantil. Todo ano ajudo na organização e durmo na escola, mas, este ano, como meus filhos estão participando, só ajudei nos preparativos. Tenho um carinho muito grande pela diretora e todos os professores. Estudei nesta escola e fiz questão que meus seis filhos estudassem aqui também”, relatou.