Último paciente do hospital de campanha dos Coelhos recebe alta e desmobilização entra na reta final
O Hospital Provisório Recife 2, localizado nos Coelhos, encerrou o atendimento após mais de quatro meses de funcionamento, colaborando para salvar vidas durante a pandemia de covid-19, no Recife. Com a alta do último paciente, a desmobilização do hospital, já anunciada pelo prefeito Geraldo Julio, entra na reta final, nesta semana. A unidade de saúde foi o maior dos sete hospitais de campanha construídos pela Prefeitura do Recife para tratar pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de covid-19. A desativação do hospital de campanha foi possível após mais de cem dias de queda nos indicadores da pandemia, inclusive a diminuição do número de pacientes internados na rede pública. Após o início da retirada de equipamentos médico-hospitalares, nos últimos dias, agora começarão a ser desmontadas as estruturas das paredes, teto e pisos.
Último paciente curado da doença no HPR 2, o policial militar da reserva Ivan Luiz Monteiro, 58 anos, deixou a unidade sob aplausos da equipe, depois de 12 dias de internação, com momentos difíceis na UTI. “Eu sou um felizardo. Primeiramente pela vontade de Deus, e segundo por vocês do hospital. Nunca pensei que iria chegar e ter um tratamento cinco estrelas aqui. Estou agradecendo sem demagogia a todos. Eu estou muito grato”, disse Ivan Luiz, que é morador da Várzea e iniciou a doença com febre, coriza, dores nas articulações e sem sentir cheiro.
Casada com Ivan Luiz há 20 anos, Fabiana Alves de Andrade lembra dos momentos difíceis em que esteve ao lado do marido neste mês. “O levei três vezes para o Hospital da Polícia Militar. E, nesta última vez, ocorreu a transferência para o hospital dos Coelhos. Eu só pedia a Deus que nos desse um lugar seguro. Só tenho a agradecer aos médicos, enfermeiros e todos os outros profissionais de saúde. A Prefeitura do Recife está de parabéns. Meu marido foi muito bem cuidado aqui”.
Maior hospital de campanha municipal, com mais de 8.000 m² de área construída em antigos galpões no Largo dos Coelhos, o HPR 2 chegou a ter 350 leitos ativos - 250 de enfermaria e 100 de UTI. Desde o dia 22 de abril, mais de 1.600 pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de covid-19 se trataram na unidade de saúde administrada pela Fundação Martiniano Fernandes, ligada ao Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip). “A sensação que temos é de dever cumprido. Estou aqui representando cada profissional que fez parte dessa história. A saída do nosso último paciente é uma vitória. Seu Ivan representa um ciclo que está se encerrando. É o fim de um processo de muitas lutas e vitórias”, disse a diretora-médica do HPR 2, Danielle Batista.
Desde quando o prefeito Geraldo Julio anunciou o fechamento gradativo da unidade, no último dia 12, o hospital deixou de receber novos pacientes. No início de julho, a Prefeitura desmobilizou 90 leitos de uma das enfermarias do HPR 2. Nas últimas semanas, foram desativados os 260 leitos restantes, sendo 100 de UTI. As equipes da Sesau retiraram camas, respiradores, concentradores de oxigênio, desfibriladores cardíacos, monitores de sinais vitais e outros equipamentos médico-hospitalares que estão sendo levados para outras unidades de saúde municipais, como as maternidades e o Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, em Areias. Parte dos materiais ficará temporariamente guardada em galpões para caso a curva epidêmica volte a subir e a Prefeitura do Recife identifique a necessidade de voltar a abrir mais leitos municipais.
Com o fechamento do HPR2, a PCR desativou um total de 560 leitos - 100 deles de UTIs. Agora, a Prefeitura do Recife está com 464 leitos em funcionamento, sendo 242 de UTI e 222 de enfermaria. O fechamento do maior hospital de campanha municipal construído durante a pandemia está sendo possível porque a ocupação dos leitos está baixa de forma consolidada. A Prefeitura do Recife tem registrado as menores quantidades de pacientes internados em leitos de UTI dos hospitais de campanha municipais, desde o início de julho, quando os leitos de terapia intensiva chegaram a ter 189 pessoas em estado grave.
Depois de abrir cerca de mil leitos em sete hospitais de campanha e leitos de covid-19 em outras duas unidades de saúde, a Prefeitura do Recife desativou, no início de julho, 300 enfermarias em cinco hospitais de campanha. Além das 90 enfermarias fechadas no HPR 2, foram desativados leitos nos hospitais construídos nas áreas externas do Hospital da Mulher do Recife (HMR - Curado) e das Policlínicas Barros Lima (Casa Amarela), Amaury Coutinho (Campina do Barreto) e Arnaldo Marques (Ibura). No HMR e nas policlínicas, foram removidas as estruturas provisórias erguidas nas áreas externas das unidades, mas todas permanecem com leitos de covid-19 nas áreas internas.
QUEDA NOS INDICADORES - A redução do número de pacientes com síndrome respiratória aguda grave (srag) internados dos hospitais de campanha e o baixo percentual de moradores do Recife são reflexo de mais de cem dias de queda nos indicadores da pandemia na capital pernambucana. Em julho, o Recife foi responsável por apenas 16% de todos os novos casos de Pernambuco, enquanto, em abril, a cidade chegou a ser responsável por 54% dos casos do Estado.
Além da queda no número de pacientes internados, de óbitos e de casos de srag por covid-19, a Secretaria de Saúde do Recife também registrou queda de 60% no número de atendimentos nas emergências das policlínicas em cujas áreas externas foram construídos hospitais de campanha. Enquanto em abril a rede registrou mais de cinco mil atendimentos a pessoas com sintomas respiratórios, no último mês, esse número caiu para cerca de dois mil.
CAMPEÃ DE LEITOS - Na fase mais crítica da pandemia, entre abril e maio, a rede de saúde da capital pernambucana não entrou em colapso graças ao isolamento social e à abertura de leitos que não existiam no início deste ano. O Recife foi a capital brasileira que proporcionalmente abriu mais leitos para pacientes com suspeita ou confirmação de covid-19. De acordo com levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a capital pernambucana só não criou mais leitos, em números absolutos, do que a cidade de São Paulo. Mas levando em conta o número de habitantes, o Recife criou, proporcionalmente, cinco vezes mais leitos para sua população - 70 leitos de covid-19 para cada 100 mil habitantes, enquanto São Paulo abriu 14 leitos de covid para cada 100 mil habitantes.