No Recife, grupo de autocuidado em hanseníase estimula superação e autonomia de pacientes acometidos pela doença
Reuniões mensais, suporte psicológico e estímulo à autonomia. É com esse propósito que trabalha o Grupo de Autocuidado em Hanseníase, desenvolvido na Policlínica Clementino Fraga, no Vasco da Gama, Zona Norte da cidade. Através de ações que complementam o tratamento medicamentoso das pessoas acometidas pela doença, os profissionais auxiliam os membros a superarem as dificuldades trazidas por este agravo que ainda deixa o Brasil na segunda posição do mundo entre os países que registram novos casos.
A Clementino Fraga é a referência secundária para o tratamento da hanseníase e os pacientes que possuem casos mais complexos são encaminhados para a unidade, que possui uma equipe específica para cuidar desses pacientes. Desde 2016, quando foi criado, o Grupo de Autocuidado reúne o trabalho de médico dermatologista, terapeuta ocupacional e enfermeira específica para o atendimento de pacientes com hanseníase. De lá pra cá, aproximadamente 300 pessoas, como pacientes e familiares, já foram atendidas. Atualmente, cerca de 25 homens e mulheres, entre 28 e 75 anos, que tratam a doença, possuem sequelas ou dificuldade de se cuidar são beneficiados pelos trabalhos desenvolvidos por estes profissionais.
A hanseníase é uma doença crônica, infecciosa e causada pela bactéria Mycobacterium Ieprae. A enfermidade pode causar incapacidades físicas, principalmente nas mãos, pés e olhos. “Por ser uma doença de fácil transmissão e bastante incapacitante, se não tratada corretamente, as pessoas que convivem com ela sofrem muito preconceito, segregação, com a ideia de que é preciso viver isolado. Eles sofrem com esse estigma até mesmo pelas famílias, dentro de casa. E os trabalhos do Grupo auxiliam justamente para melhorar a autoestima dos membros e apresentar a eles os seus direitos e melhores formas de cuidado”, ressalta a enfermeira Ana Priscila Duarte, uma das co-fundadoras do Grupo.
O Grupo de Autocuidado em Hanseníase faz parte da linha de cuidado proposta pelo Ministério da Saúde para o tratamento da doença. É uma forma de complementar as medicações, através de apoio psicológico, visando à superação das limitações das pessoas acometidas pela doença, proporcionando a troca de experiências, e favorecendo a autonomia delas para a melhor a qualidade de suas vidas.
Segundo o órgão federal, a formação e o desenvolvimento de grupos de autocuidado visam estimular a formação da consciência de riscos para a integridade física, a mudança de atitudes para a realização do autocuidado e o fortalecimento da autonomia biopsicossocial, a partir da identificação do problema visando a sua superação. E, no Recife, isso é bem aplicado.
O Grupo desenvolve um trabalho em que, além das reuniões para tratar de temas de autocuidado, como como atenção aos olhos, mãos e pés na prevenção e reabilitação de ferimentos de ferimentos, alimentação saudável, também são realizados passeios, festas, oficinas de geração de renda, coral, orientação sobre os direitos da pessoa acometida pela hanseníase. “Nós realizamos essas atividades como forma de fortalecimento da autoestima desses indivíduos, mostrando que eles são capazes de superar os limites colocados pela doença”, reforça Ana Priscila.
Como é o caso da dona de casa Maurineia Roseno de Vasconcelos, 41 anos, que, no auge da juventude, foi diagnosticada com hanseníase. Hoje, curada da doença, ela possui sequelas nas mãos e pés e conta que participa do Grupo da Clementino desde a sua criação. “Eu tive que modificar toda a minha vida em função da doença e passei a ter dificuldades. Quando fui convidada para participar do grupo, entendi a importância disso. Vendo as histórias dos outros participantes, conseguimos nos apoiar, nos fortalecer. Hoje, eu não tomo mais nenhuma medicação e não tenho mais a doença, mas continuo participando ativamente para mostrar o meu exemplo. Minha filha e meu esposo também me acompanham nessa caminhada do Grupo”, vibra.
Um dos frutos mais queridos pelos participantes do Grupo é o Coral. “Através das apresentações e premiações, os membros se sentem valorizados por mostrarem ao público as suas habilidades”, ressalta Duarte. Prova disso é que o trabalho será novamente destaque e, desta vez, receberá menção honrosa em uma programação do Janeiro Roxo do Ministério da Saúde, que acontecerá em Brasília, entre os dias 24 e 27 de janeiro .“A maioria dos membros tem sequelas da doença e essa é uma forma de fortalecê-los. Este grupo é o mais antigo do estado de Pernambuco e sempre é reconhecido pelas suas atividades, além de ser referência para todos os municípios do Estado”, detalha a coordenadora de hanseníase do DS 7, e uma das responsáveis pelo projeto, Mônica Sousa.