Recife anuncia mais quatro Patrimônios Vivos
As ruas, festas e tradições do Recife acabam de sagrar mais quatro Patrimônios Vivos, entre mestres, mestras e grupos culturais tradicionais e populares da capital pernambucana, assegurando-lhes reconhecimento e valorização, além da transmissão e perpetuação de seus conhecimentos e técnicas. Concluindo um processo cuidadoso e democrático de escolha, iniciado no último mês de agosto, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, anuncia os quatro nomes que, a partir de agora, ficam também inscritos na posteridade da memória cultural recifense: a Associação Cultural e Quadrilha Junina Origem Nordestina, a Tribo de Caboclinhos Tupi, a parteira Edileusa Maria da Silva e o porta-estandarte José Fernando Alves Zacarias.
Nesta segunda edição do concurso, o registro municipal vai garantir bolsas de incentivo mensais, nos valores reajustados (de acordo com a Lei 18.827/2021) de R$ 1.921,06 e R$ 2.561,41, para indivíduos e coletivos artísticos, respectivamente, em caráter vitalício.
A escolha foi concluída ontem (7), em reunião extraordinária do Conselho Municipal de Política Cultural, realizada na sede do Conselho, no Pátio de São Pedro, reunindo representantes da sociedade civil e governamentais.
Concorriam ao título 20 defensores das manifestações culturais recifenses, que se sagraram finalistas, após quatro etapas de avaliação das candidaturas: validação documental, avaliação de mérito, a partir da documentação apresentada, a defesa pública de candidaturas, além da votação final, pelos conselheiros de Cultura.
Sobre os novos Patrimônios Vivos do Recife:
ASSOCIAÇÃO CULTURAL E QUADRILHA JUNINA ORIGEM NORDESTINA
Nascida aos pés da santa, no Morro da Conceição, Zona Norte da cidade, a Origem Nordestina é devotada às mais genuínas tradições culturais da região que carrega até no nome. Fundada em 1994, traz uma singularidade: foi a primeira quadrilha a ter como presidenta e marcadora uma travesti, popularmente conhecida como Suelane Tigresa, celebrando a diversidade como compromisso, lema e tema constante a pautar seus espetáculos, sempre pioneiros no enfrentamento a questões como racismo religioso e desigualdades de gênero e renda.
Dedicada o ano inteiro à cultura popular recifense, a quadrilha mantém estreitas relações com agremiações e ciclos culturais vizinhos, trocando experiências e compartilhando estruturas, recursos, sonhos, esperanças e até integrantes com grupos como as escolas de samba Galeria do Ritmo, também do Morro da Conceição, e Gigante do Samba, da Bomba do Hemetério. Tradição não rima com união por acaso.
TRIBO DE CABOCLINHOS TUPI
Fundado em 17 de julho de 1938, no bairro de Tejipió, o Tupi é uma das mais tradicionais agremiações carnavalescas da cidade, tendo já conquistado títulos de campeã e vice campeã no Concurso de Agremiações, realizado pela Prefeitura do Recife.
Atualmente, o grupo está sediado no bairro da Mangueira e conta com 200 integrantes, que celebram as tradições dos povos originários do Brasil, misturando dança, música e o colorido das fantasias, protagonizadas por coloridos cocares, enfeitados com penas e brilhos.
EDILEUSA MARIA DA SILVA
Edileusa Maria da Silva nasceu em 1 de dezembro de 1956, em Vitória de Santo Antão, trazida ao mundo pelas mãos habilidosas de uma parteira. Aos cinco anos, mudou-se com a família para o Recife. Começou a trabalhar muito cedo, mas sua verdadeira vocação, ela descobriu, por acaso, aos 32 anos, quando precisou fazer o parto de uma vizinha que não conseguiu chegar a tempo no hospital. A notícia correu ligeiro no Loteamento Jardim Eldorado, em Guabiraba, onde Edileusa mora até hoje. E ela começou a ser procurada por gestantes das redondezas.
Especializou-se no ofício de parteira e hoje é detentora de um vasto repertório de saberes e práticas populares ancestrais, que vão desde o acompanhamento pré-natal, assistência ao parto e atenção aos cuidados de resguardo, amamentação e reabilitação de puérperas, além do cuidado com toda a família. No seu quintal, Edileusa cultiva várias plantas com aplicações medicinais, confirmando-se mais que parteira: guardiã de vidas
JOSÉ FERNANDO ALVES ZACARIAS
Seu Zacarias é um carnavalesco nato. Aos 80 anos de idade, nem pensa em aposentar o estandarte. Sua missão no mundo, garante, é carregar a arte, para que nunca lhe falte destaque em passarela nenhuma. Nascido no Fundão, em 1943, apaixonou-se cedo pelo Carnaval. Confeccionava seus estandartes de papel de seda e cabo de vassoura, para brincar pelas ruas do bairro onde nasceu e cresceu. Seu primeiro desfile como porta estandarte oficial, foi em 1972, com a Troça Carnavalesca Mista Abanadores do Arruda e o Clube das Pás Douradas.
Sempre com seu figurino impecável - roupa, sapato, meião e peruca inspirados em Luís XVIII, rei da França no século 18 -, desfilou em vários blocos: Lenhadores, Bola de Ouro, Clube Estrela de Paudalho, Vassourinhas, Marins dos Caetés, Pitombeira dos 4 Cantos, Nação Estrela Brilhante entre outros. É o primeiro e único porta estandarte do Galo da Madrugada. Já recebeu 26 troféus e dezenas de homenagens, tendo vencido diversos concursos, ano após ano, com o estandarte na mão e o frevo no coração. Guardião de um ofício tradicional nas ruas coloridas de Momo, carrega toneladas de amor pela festa e um legado de muitas gerações de brincantes.
Sobre a Lei
Resultado de amplo debate, o Registro de Patrimônio Vivo Municipal representa a materialização de uma política pública de cultura que prioriza a promoção, a difusão e o fomento dos bens intangíveis do Recife, com o objetivo de salvaguardar, redimensionar espaços de ação e dar continuidade histórica de relevância para a memória cultural e artística da cidade. Concebido pela Secretaria de Cultura, o projeto foi encaminhado para a Câmara de Vereadores do Recife em junho de 2022. Após aprovação, a Lei foi sancionada no dia 9 de setembro.
Primeiros patrimônios
Revelando uma diversificada e fidedigna amostra das tradições culturais recifenses e de seus mais dedicados e antigos guardiões, os primeiros quatro Patrimônios Vivos do Recife, eleitos no ano passado, são a passista Zenaide Bezerra; Antônio José da Silva Neto, que assumiu a alcunha de Mestre Teté, à frente do Maracatu Almirante do Forte; além das agremiações históricas Pierrot de São José e Gigante do Samba, que há décadas desfilam e defendem a alegria, as raízes e a força da cultura recifense.