Festival de Literatura promove reflexões sobre obra de Nelson Rodrigues e literatura contemporânea
Ciclo de debates e palestras encerra neste sábado (25) na Livraria Cultura
A obra do ilustre recifense Nelson Rodrigues, suas adaptações para o teatro e cinema, e a literatura contemporânea foram debatidas por muita gente que escreve, lê e pensa as artes durante a programação do 10º Festival Recifense de Literatura – A Letra e a Voz realizada no auditório da Livraria Cultura (Paço Alfândega, Bairro do Recife). As homenagens a Nelson foram muitas e o tema “Fronteiras do Real” permeou os encontros. Neste sábado (25) é a última chance de participar dos debates. Confira a programação no site do festival.
No fim da tarde de sexta-feira (24), o jornalista Thiago Soares entrevistou o ator e diretor de teatro Newton Moreno, abordando a sua adaptação da obra “Álbum de família”, de Nelson Rodrigues, para o espetáculo “Memória da cana”, entre outras montagens. A relação do texto com a encenação foi uma das questões debatidas. “Eu tenho um fascínio pela reinvenção da palavra. Quando o povo cria uma palavra e aquilo que escuto me ‘fere’, me impressiona, eu anoto”, contou Moreno.
Sobre o seu processo como autor de textos para teatro, Moreno explicou que tanto realiza trabalhos mais solitários quanto desenvolve processos colaborativos, onde os atores são incentivados a buscar memórias e vivências para criar seus personagens, e consequentemente elaboram textos para as encenações.
Cinema e teatro - Na quinta-feira (23), a “Mostra 100 Nelson” reuniu gente do teatro e do cinema para debater junto com o cineasta Neville D´Almeida adaptações da obra rodrigueana. Neville foi responsável pelos filmes “Os Sete Gatinhos” e “A Dama da Lotação”, baseados em livros de Nelson Rodrigues. Participaram também da conversa o escritor e crítico de cinema, Fernando Monteiro; o gerente de Literatura da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Sérgio Dantas; o ator Vavá Schon-Paulino; e o crítico de cinema Celso Marconi.
Durante a conversa, Neville D´Almeida declarou o desejo de fazer uma nova adaptação para mais uma obra de Nelson com filmagens no Recife. “Eu queria fazer uma trilogia de Nelson, já fiz teatro e conto. Se eu voltar a fazer Nelson, não vou fazer no Rio de Janeiro. Não cabe mais restringir Nelson ao Rio de Janeiro. Vou fazer no Recife. Nelson é universal. Nelson é de Pernambuco, de Minas Gerais, do Distrito Federal, é do Brasil. Ele cabe em qualquer lugar do mundo”.
Criação literária - Ainda na quinta-feira (23) foi possível acompanhar a conversa com o tema “O Recife como personagem”, na qual o escritor Ronaldo Correia de Brito revelou sobre o processo de criação do seu novo livro “Estive lá fora”, que será lançado em breve pela editora Alfaguara. Para estimular a conversa, foi escalado o doutorando em literatura, Conrado Falbo.
Muito confortável para contar suas inspirações e suas angústias durante o ato de escrever, Ronaldo cativou totalmente a atenção do público. “Eu sempre participo do festival. Eu adoro e acho muito importante esse espaço para a literatura”, falou quando iniciou o bate-papo, onde revelou que o livro “A Morte de Virgílio”, de Hermann Broch, e algumas fotografias foram a base para o novo romance. Sobre o Recife como personagem e deu pistas: “Eu via o rio como saída” e “o suor dos personagens é o suor do Recife”.
Ronaldo também contou que teve muitas dúvidas se deveria publicar o livro e chegou a escrever para o seu editor uma lista com 18 motivos para que a obra não fosse lançada, arrancando muitos risos da plateia. O número foi uma referência aos meses que passou dedicado à escrita.