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| 22.08.12 - 18h55

Teatro de Santa Isabel recebe Chico César nesta sexta (24)

A temporada do projeto Seis e Meia no Recife está quase no fim, mas ainda reserva boas surpresas ao público. Nesta sexta (24), quem sobe ao palco do Teatro de Santa Isabel é o paraibano Chico César. O show terá abertura do grupo Rivotril e tem início às 19h. Os ingressos são vendidos na bilheteria do Teatro a preços populares: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia).

Nesta passagem pela cidade o cantor irá apresentar o show da turnê “Aos vivos agora”, que dá nome ao último DVD gravado por ele. O repertório inclui Béradêro, Mama África, À primeira vista, Templo e Alma não tem cor.

Programação projeto Seis e Meia

24 de agosto
Show abertura: Rivotril
Chico César

31 de agosto
Show de abertura: Ylana Queiroga
Mariana Aydar

Serviço:
Show de Chico César
Teatro de Santa Isabel
Sexta, 24 de agosto, às 19h
Ingressos: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia)
Informações: 3355.3322

Por Chico César
Aos Vivos é meu primeiro CD, gravado ao vivo com voz e violão, lançado 16 anos atrás pela gravadora Velas (de Ivan Lins e Vitor Martins). Agora lanço o DVD desse álbum que me mostrou primeiro à cena alternativa de São Paulo e, alado, voou Brasil adentro e mundo a fora. O disco foi gravado em três noites do outono de 1994 na Funarte da Alameda Nothmann, em Sampa, onde já vivia há nove anos. O lançamento foi só no ano seguinte, 1995. Para o DVD, de novo o centro de Sampa: o Teatro FECAP, na Liberdade, nos dias 2, 3 e 4 de setembro de 2011.

Dani Black é meu convidado no DVD. Ele participa de algumas músicas tocando violão, guitarra e fazendo vocais. Mais ou menos a mesma coisa que no disco fizeram Lenine e Lanny Gordin. Dani cresceu ouvindo o Aos Vivos e eu fui seu baby sitter e de sua irmã Patrícia inúmeras vezes quando seus pais, meus parceiros Arnaldo Black e Tetê Espíndola, saíam para ir ao cinema ou visitar amigos.

Egídio Conde, do Audiomobile, é um dos principais responsáveis pela existência do CD Aos Vivos. Nos conhecíamos do Festival de Avaré desde 1991 e, ao procurá-lo para que me cedesse seu estúdio para gravar vozes e violões em um material que estava preparando com André Abujamra na produção do que deveria ter sido meu primeiro disco, ele me aconselhou a fazer um disco ao vivo e colocou à disposição seu equipamento, sua sensibilidade e seu tempo para o projeto. "Ao vivo, no palco, não tem pra ninguém. É você onde a força de sua música aparece. É onde você é o cara", me encorajou.

Lenine veio de ônibus noturno do Rio de Janeiro, acho que pagando do próprio bolso a passagem, e ficou hospedado na sala do caótico apartamento que eu dividia com Zeca Baleiro na Heitor Penteado, em cima da Padaria Ceará, onde tínhamos umas compreensivas penduras. Alan Gordin, pai do Lanny, liberou o legendário guitarrista de tocar em sua boate Stardust nessas três noites já que ele ganharia um pouco mais tocando comigo. As refeições fazíamos na musicasa de Tata Fernandes, Nina Blauth e Míriam Maria, em que Itamar Assumpção (meu parceiro em Dúvida Cruel, que está no disco) observava com divertida cautela o assédio de nossa fauna às suas orquídeas. Na produção, Elaine Marin e Esther Vasconcelos.

Gravei o disco com um violão takamini emprestado de Edson Natale, que mais na frente até tentaria (e fracassaríamos) me ajudar a vender bônus para prensar o disco às próprias custas. Na platéia: Ná Ozetti, Suzana Sales, Vânia Bastos, Vange Milliet, Virgínia Rosa, Gigi Trujilo, todas as Orquídeas do Brasil, Tetê Espíndola, Carlos Careqa, Passoca, Renato Braz. Quase ninguém pagou entrada, mas também depois ninguém cobrou direitos conexos pela excelente performance do coro, que surpreendeu a Ivan Lins: Como pode um artista desconhecido em seu primeiro disco ter tanta gente cantando na platéia? Mistérios que só a guerrilha do underground explica: insistentes apresentações em lugares pequenos repetidas vezes para quinze, dez ou até cinco pessoas…

Egídio e eu mixamos e editamos o disco com a tv ligada sem som vendo a tediosa copa de 94, nos Estados Unidos. Vez por outra mudávamos de canal para ver algo interessante na MTV. Disco pronto, tentaram nos convencer a não lançá-lo para não desperdiçar as músicas com aquelas gravações sem arranjo, despidas. Até experimentamos colocar percussão em algumas faixas, mas não dava certo, pois o tempo oscilava.

Finalmente a Velas se decidiu e, um ano depois, veio o lançamento. Um pouco antes Mama África e A Primeira Vista saíram em uma coletânea por uma revista de áudio. Algumas rádios públicas e adultas começaram a tocar, algumas pessoas começaram a se perguntar: É o Caetano Veloso? É o Gil? É um disco voador? Era um disco voador, que ganhou vida própria e plana sem planos até hoje. Ele terminou por me levar ao mainstream e também a me defender do mainstream. Nas reuniões mais tensas em que diretores de gravadora tentavam me convencer de algo que eu realmente não faria de jeito algum, usei meu primeiro disco como escudo e argumentava: "Vocês nunca teriam me deixado gravar o disco através do qual me conheceram e que despertou o interesse por mim".

Ah, o DVD. Também sairá uma versão do áudio em cd e vinil pois era nesse formato que eu fantasiava meu primeiro disco. O repertório: todo o Aos Vivos, respeitando o espírito de certa liberdade irresponsável que há nele. É mais isso do que o compromisso de tentar fazer igualzinho ao disco. Não há como mesmo. Fiz uma noite de Aos Vivos numa recente Virada Cultural em São Paulo, no Teatro Municipal da cidade. Foi emocionante: de madrugada, na fila, a turma tocando e cantando todas as músicas, na seqüência.

Mas também tem o Aos Outros: algumas músicas que toquei naquelas três noites e que acabaram não entrando no disco (tipo Utopia e Invocação). E outras, minhas ou não, que entraram na minha vida de lá pra cá e que eu acho que tem a ver fazer agora: Dor Elegante (de Itamar e Leminski), Paula e Bebeto (Milton Nascimento/Caetano Veloso), Ilê Ayê (Paulinho Camafeu).