Professores da Educação Especial iniciam curso sobre Comunicação Facilitada para autistas
Cerca de 15 professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da rede municipal de ensino do Recife participam, até o final de novembro, do curso de formação "Comunicação Facilitada para Pessoas com Autismo”. A atividade começou nesta sexta (5), no Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e tem o objetivo de capacitar os profissionais para proporcionar aos alunos com autismo um uso mais eficaz de dispositivos de comunicação alternativa, melhorando sua qualidade de vida e abrindo novas perspectivas de inclusão. O curso é uma parceria da Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Educação, com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-PE).
A Comunicação Facilitada é o ramo da Tecnologia Assistiva que usa dispositivos e técnicas para viabilizar a comunicação para pessoas sem fala nem escrita funcional, entre eles os autistas. A capacitação segue os padrões do Instituto de Comunicação e Inclusão (ICI) da Universidade de Syracuse (EUA), referência mundial no ensino da matéria. Coube à professora Tícia Cavalcante, da UFPE, doutora em Psicologia Cognitiva, ministrar a palestra de abertura. "As ferramentas de comunicação alternativa incluem sistemas computadorizados, símbolos pictográficos e tabuleiros com figuras. A Tecnologia Assistiva atua como mediadora das relações do sujeito com ele mesmo e com os outros", explica.
O coordenador do Núcleo de Inovação Tecnológica do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Carlos Lucena de Aguiar, falou sobre o tema "Comunicação Facilitada na Reabilitação de Pessoas Autistas". Ele ressaltou que é fundamental dar voz às pessoas com autismo, para que seus direitos sejam respeitados. "Como eles têm graves problemas de comunicação, a questão é como ouvir sua voz. Não há maior fonte de aprendizado do que buscar os relatos autobiográficos, em que o próprio autista conta o que sente", destaca, acrescentando que um dos fundamentos da Comunicação Facilitada é aprender a respeitar e entender o comportamento do autista.
EMOÇÃO - "O método de comunicação alternativa ajuda as pessoas com autismo mais severo a usar dispositivos como o teclado do computador, tabuleiros de figuras e aplicativos para Tablet como o Livox", complementa Carlos Lucena. Ele levou seu filho Pedro, que é autista e cursa o Ensino Médio, para uma demonstração prática que emocionou todos os presentes. Usando o Livox e depois um teclado de computador, o rapaz - que antes não conseguia se comunicar - interagiu com os professores e até respondeu a perguntas, com apoio do pedagogo e mediador escolar Rogério da Silva.
"Eu me sinto honrado em participar dessa formação em meio a pessoas tão especiais que são os professores. Sei o quanto é difícil encontrar pessoas dispostas a serem colaboradoras nesse processo", escreveu Pedro. Carlos Lucena conta que o filho começou a escrever quando passou a usar a metodologia da Comunicação Facilitada. "Até então, a gente não sabia que ele era alfabetizado. O aprendizado pode ter acontecido na escola ou em casa. Sempre mostramos filmes com legendas para ele e espalhamos cartazes com frases escritas para ele ver. Por conta de distúrbios graves de comunicação, pessoas que podem ter aprendido conceitos como a leitura podem não conseguir expressá-la", complementa.
A chefe da Divisão de Educação Especial da Secretaria de Educação do Recife, Lauricéia Tomaz, disse que relatos como o de Pedro ajudam as pessoas a superar barreiras. "Você está transformando nosso olhar em relação aos autistas", ressaltou. Na capacitação serão abordados, em nível básico, diversos tópicos de Comunicação Facilitada para pessoas com autismo, como História e Antecedentes, Conceitos Neuromotores; Apoio Físico, Comunicativo e ao Comportamento; Monitoração, Construção de Mensagens, Atividades na Escola, Documentação e Promoção da Independência.