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Educação | 01.06.15 - 10h24

Colunista da Revista Veja faz palestra para equipe da Secretaria de Educação do Recife

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O economista Gustavo Ioschpe falou de temas espinhosos, questionou vários “mitos” sobre a educação brasileira e mostrou exemplos de práticas eficazes. (Foto: Inaldo Lins/ PCR)

 

O economista e colunista da Revista Veja Gustavo Ioschpe esteve no Recife, neste sábado (30), para fazer uma palestra para a equipe de gestão da Secretaria de Educação do Recife, realizada na Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Educadores do Recife Professor Paulo Freire, na Madalena. Vencedor do Prêmio Jabuti 2005 pelo livro A ignorância custa um mundo – o valor da educação no desenvolvimento do Brasil, ele falou da “educação de resultados”. Para ele, que pesquisa o tema há mais de 15 anos, o sistema educacional só é eficaz quando atinge seu objetivo máximo: o aprendizado do aluno.

O secretário de Educação do Recife, Jorge Vieira, estava articulando a vinda de Gustavo Ioschpe à capital pernambucana há muito tempo. “Ele tem sido uma das vozes mais lúcidas a falar da educação no Brasil, nos últimos anos, tendo a coragem de, através de dados, confrontar verdades tidas como absolutas e aceitas sem discussão”, disse o gestor. E foi justamente o que o economista fez: falou de temas espinhosos e questionou vários “mitos” sobre a educação brasileira, inquietando os participantes.

Primeiramente, o especialista em economia da educação mostrou o resultado de várias pesquisas para comprovar que “o maior e mais urgente problema do Brasil é a educação”. Um dos dados foi que 74% da população adulta brasileira não consegue entender um texto simples, de acordo com o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2011. Ele também apresentou resultados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 2012, quando o Brasil ficou na 58ª posição em matemática, 55ª em linguagem e 59ª em ciências, entre 65 países.

“Não é porque o país é subdesenvolvido que não pode ter uma boa educação. A realidade de uma série de lugares mostra que isso é balela, como é o caso de Xangai, na China, e Sobral, no Ceará. A educação vai mal no Brasil, mas não é só por causa do nível de desenvolvimento econômico. A realidade é dada. Não adianta a gente ficar se lamentando”, defende o gaúcho que foi colunista do jornal Folha de São Paulo. Ele diz usar conceitos da economia, como a estatística, para ver o que funciona na educação.

Gustavo Ioschpe acredita que o problema não está na falta de investimento em educação, mas sim na qualidade. Para ele, a chave do problema está na sala de aula. “Acho que o foco de todo gestor público tem que ser o aprendizado do aluno. Resultado é o que importa. Muitos fazem planos mirabolantes para melhorar a educação, mas é preciso criar uma conexão direta entre o plano defendido e o que está acontecendo na parte pedagógica. Se você para a ação do lado de fora da sala de aula, o problema não vai ser resolvido”, assegura Ioschpe, que é formado em Ciência Política e Administração Estratégica pela Universidade da Pensilvânia e fez mestrado em Economia Internacional e em Desenvolvimento Econômico pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

O colunista da Veja também defende que o problema não está no sistema educacional. “O feijão com arroz funciona muito bem. Não é o sistema educacional que não funciona; o problema é a execução do sistema. Não precisamos reinventar a roda. Basta replicar o que deu certo em outros países. Depois dessa fase, tentaríamos inovar. Não precisamos de nada revolucionário”.

Baseado em pesquisas nacionais e internacionais, Gustavo Ioschpe diz que as escolas eficazes precisam ter infraestrutura em ordem, biblioteca, livros em sala e laboratórios de ciências. Ele também recomenda que se evite a perda de tempo dos docentes com trabalhos burocráticos. Quanto às práticas de ensino que dão certo, ele aponta o feedback dado aos alunos nas correções do dever de casa; o uso efetivo do tempo de ensino, sem perda de tempo com chamada e conversa; o uso constante da avaliação e o rigor ao dar notas. “Um bom sistema educacional deve atuar rápido nos problemas dos alunos e professores. Por isso o acompanhamento deve ser constante. Qualquer gestão de sistema educacional que não interfere no que acontece em sala de aula está condenada a não ter resultados ou ter resultados pequenos”.