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Cultura | 03.06.11 - 18h10

Escritor cubano lança livro no Memorial Chico Science

Carlos Moore conversou com o público e autografou exemplares da biografia de Fela Kuti

Música, política, racismo, sexualidade. Estes foram alguns dos temas do bate-papo realizado no Memorial Chico Science, na noite da última quinta-feira (02). A conversa teve como ponto de partida o lançamento do livro ‘‘Fela. Esta vida puta’’ (344 páginas, Nandyala Editora), biografia sobre o músico e ativista político nigeriano Fela Kuti, falecido em 1997. O escritor cubano e etnólogo Carlos Moore, autor da biografia, esteve presente e falou sobre a personalidade marcante de Fela Kuti. O debate contou com a participação do músico Hélder Aragão (mais conhecido como DJ Dolores) e do funcionário da Prefeitura do Recife e militante do Movimento Negro Unificado, Pedro Cavalcante.

Fela Kuti foi um corajoso pan-africanista, que enfrentou forças de opressão com o poder de sua música, denunciou o racismo, a alienação cultural e o imperialismo econômico e político. Para começar, Carlos Moore explicou como conheceu o Memorial Chico Science, equipamento da Secretaria de Cultura, numa visita ao Bairro de São José, quando procurava lugares de referência da cultura negra no Recife. “Eu conheci este lugar há um ano. Não conhecia Chico Science. Cheguei aqui de forma acidental, mas há quem não acredite em acidente. Então, os espíritos de Fela e Chico estavam por aí e me trouxeram aqui”, afirmou Moore.

Com sua música hipnótica e seu estilo de vida provocador, Fela Kuti conquistou uma enorme legião de seguidores em todo o mundo. “A convivência com Fela mudou minha vida radicalmente. Eu queria colocar as ideias de Fela neste livro, sem hipocrisia para que as pessoas possam discutir o racismo e também os preconceitos de Fela sobre a homossexualidade e as mulheres”, ressaltou o escritor contextualizando a cultura no qual o músico foi criado. Moore revelou ainda que inicialmente Fela Kuti não tinha interesse na publicação de um livro sobre sua vida, mas que depois mudou de ideia e o autorizou a escrever a biografia.

O evento contou com cerca de 60 pessoas, que lotaram o pequeno hall do Memorial Chico Science. “Já sou apaixonado pela música de Fela Kuti há muitos anos e sei que a sua trajetória extrapola a música, se estende pela antropologia e política. Por isso não poderia deixar de acompanhar este evento”, afirmou o jovem Rafael Queiroz. O estudante de música Franklim Costa e a jornalista Goreti Linhares também estiveram presentes no lançamento por já conhecerem os afrobeats de Fela Kuti, com a curiosidade de saber mais sobre a história política do artista nigeriano.

A biografia, já lançada em outras línguas, ganhou somente este ano tradução em português, um lançamento da editora mineira Nandyala. A história de vida Fela Kuti, considerado o pai do afrobeat (uma fusão de jazz, funk e cantos tradicionais africanos), é contada em grande parte pelas palavras do próprio biografado, além dos depoimentos dos seus filhos e esposas. “A maioria das pessoas escuta e dança a música de Fela, mas não conhece suas ideias sobre um sistema contra hegemônico”, destacou.

No bate-papo, Carlos Moore ainda falou sobre a admiração de músicos como Bob Marley, James Brown e Miles Davis por Fela Kuti, e ainda sobre o interesse de Fela sobre assuntos místicos e sobrenaturais como a conversa de pessoas com espíritos e a existência de seres extraterrestres.