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| 04.06.12 - 11h33

Trajetória do Recife na eliminação da filariose marca o encerramento do 4º Congresso do Cosems/PE

No evento, também foram abordadas experiências de enfrentamento à tuberculose e à hanseníase na capital pernambucana

Por Larissa Correia

Pernambuco é o único Estado a registrar casos de filariose no País. A triste realidade em breve será modificada com a eliminação da moléstia nas cidades que ainda contabilizam ocorrências da enfermidade causada pelo parasita Wuchereria bancrofti: Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes. A trajetória encampada na última década pelos três municípios contra essas e outras doenças chamadas negligenciadas foi o grande destaque do painel que encerrou, neste sábado (02), em Gravatá, o 4º Congresso do Cosems/PE – Colegiado Estadual de Secretarias Municipais de Saúde, realizado no local desde 31 de maio.

O titular da pasta na capital pernambucana, Humberto Antunes, comentou a mobilização pelo fortalecimento da erradicação da filariose no Recife. “Nos últimos anos, mudamos a forma de tratar e enfrentar o problema. Em 2003, foram 907 casos. No ano passado, tivemos quatro, uma redução de 99% de incidência. Estamos caminhando para a eliminação da doença, cuja ocorrência em nosso território é motivo de vergonha. No entanto, apesar dos nossos esforços, do crescimento do acesso aos serviços, dos milhares de tecnologias e do aumento da qualidade de vida da população, ainda há muito a fazer”, ressaltou.

Gerente de Epidemiologia do Recife, Antônio Leite detalhou o programa municipal de enfrentamento de doenças negligenciadas. A iniciativa foi implantada no primeiro trimestre de 2011 – bem antes de o Governo de Pernambuco lançar o Projeto Sanar, com a mesma finalidade, só que com um escopo maior, por contemplar todo o Estado e, consequentemente, agravos não endêmicos na capital.

Nosso programa de eliminação da filariose foi reestruturado em 2002, quando intensificamos o controle vetorial, produzimos um guia de vigilância e tratamento e instituímos, associado à ampliação do número de equipes do Programa de Saúde da Família, o tratamento coletivo contra a doença. Com exceção do primeiro ano, sempre tivemos cobertura superior aos 80% preconizados pelo Ministério da Saúde”, disse Leite.

Segundo o gestor de Vigilância Epidemiológica, é preciso otimizar outras intervenções no Recife. “Estamos na fase final do processo de erradicação da filariose, mas os desafios continuam em relação a outras doenças. No caso da tuberculose, queremos elevar o percentual de cura e diminuir o de abandono do tratamento, reduzindo ainda os casos associados à infecção por HIV e aids. No que se refere à hanseníase, queremos eliminá-la como problema de saúde pública. Para isso, pretendemos ampliar ainda mais a identificação precoce de casos”, pontuou. Para os dois agravos, Antonio Leite também enfatizou a necessidade de qualificar a Atenção Básica para reconhecimento e tratamento das ocorrências, o incremento na qualidade dos serviços prestados e, indiscutivelmente, a manutenção da vigilância.  

As secretárias de Saúde de Jaboatão dos Guararapes, Gessyanne Paulino, e da Olinda, Tereza Miranda, o secretário estadual de Vigilância em Saúde, Eronildo Felisberto, também participaram do painel, que contou ainda com a intervenção de Rosa Castália, coordenadora geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação do Brasil. “Em 2009, a Organização Panamericana de Saúde fez um mapeamento sobre doenças negligenciadas na América Latina. Da lista de 14 agravos encontrados, o Brasil foi o único que tinha registro de todos. O Ministério da Saúde vem trabalhando na perspectiva de essas doenças não estarem mais negligenciadas, sendo alvo de atenção cada vez maior”, afirmou a representante do Governo Federal.   

Depois de se declarar satisfeita com as experiências vanguardistas dos três municípios na área de saúde pública, Rosa destacou que, em pouco tempo, duas enfermidades serão tiradas da lista brasileira. A oncocercose, que atinge uma área indígena específica na fronteira com a Venezuela, e a filariose. “Epidemiologicamente falando, podemos considerar a cadeia de transmissão da filariose interrompida. Estamos partindo para a formalidade de aplicar protocolos da Organização Mundial de Saúde. Será uma conquista muito grande, um verdadeiro marco para o Brasil a certificação da eliminação da doença no País”, completou.

Tecnologia – O último dia do 4º Congresso do Cosems/PE teve também uma apresentação da Rede NUTES (Núcleo de Telessaúde) do Governo Federal. Uma das especialistas à frente da empreitada, Magdala de Araújo Novaes falou sobre o processo de implantação e as vantagens da iniciativa, com abordagens em teleconsuloria, telediagnóstico e tele-educação. “No Estado, ela teve início em 2003. Foi criada pela Universidade Federal de Pernambuco e está sediada no Hospital das Clínicas. Ela melhora a qualidade do serviço de saúde do SUS, capacitando e integrando trabalhadores e profissionais por meio do uso da tecnologia e integração da informática e telecomunicação”, comentou.

Em abril de 2008, a Rede NUTES foi replicada para outras unidades federativas. “Começamos com nove e já estamos presentes em 12 Estados. Nesse período, somente em Pernambuco, temos 82 municípios participantes, com quase 2,5 mil usuários cadastrados e 179 teleconsultores de 30 instituições diferentes. Entre os benefícios para profissionais e gestores está a oportunidade de educação permanente, a diminuição de riscos e agravos pelo deslocamento, a redução do isolamento dos profissionais e o estímulo à sua fixação mesmo em áreas remotas”, elencou.

A edição 2012 do evento das Secretarias de Saúde de Pernambuco foi uma das mais prestigiadas, com 348 inscritos de 96 municípios e a participação de representantes do Governo Federal em todos os debates. O encerramento foi marcado com a leitura da Carta de Gravatá, com uma avaliação do evento e conteúdos que serão debatidos e buscados até o próximo congresso.

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