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Cultura | 05.10.12 - 11h54

Moradores de rua voltam a ter esperança em abrigos públicos do Recife

Dinorá Vieira, residente da Casa de Acolhida Temporária O Recomeço, foi aprovada em 12º lugar num concurso público. A Casa é mantida pela Prefeitura do Recife e coordenada pelo IASC

A Casa de Acolhida Temporária O Recomeço, dirigida pela Prefeitura do Recife, está comemorando o sucesso de Dinorá do Rocio Vieira. Ela é uma das 36 pessoas residentes da Casa e acaba de passar em 12º lugar no concurso do Serviço Social do Comércio (SESC), dentre os mais de três mil candidatos inscritos no processo seletivo. O abrigo tem como propósito acolher mulheres com ou sem filhos em situação de rua, com idade entre 18 e 59 anos.

Mesmo diante das dificuldades encontradas pela usuária, com os vínculos familiares rompidos, sem renda e moradia, ela recebeu o apoio da equipe do Instituto de Assistência Social e Cidadania (IASC) para encontrar força de vontade para estudar. “O Recomeço viu que ela tinha potencial, apostou e acertou. O que nós fizemos foi garantir os direitos dela enquanto cidadã, ajudando-a a se reestruturar emocionalmente para se inserir novamente no mercado de trabalho. Como se sabe, passar em qualquer seleção pública não é uma tarefa fácil, nem mesmo para quem tem seus direitos fundamentais garantidos”, relatou a gerente operacional da Casa de Acolhida O Recomeço, Micheline Sales.

Dinorá Vieira é natural de Curitiba, no Paraná, passou por vários albergues do Nordeste, vendeu picolé, lavou carros, trabalhou em pensionatos, mas nunca havia conseguido um emprego de carteira assinada. “Cheguei aqui só com o dinheiro da passagem que a assistente social me deu no albergue de Alagoas. Dormi na estação do metrô e não sabia qual direção tomar. Logo pela madrugada encontrei os garis na rua, e eles me receberam de forma calorosa e me encaminharam para Prefeitura. Eu tinha minha fé e precisava me valer dela”, lembrou.

Apesar do curto período que ela teve para estudar conquistou a aprovação entre os primeiros colocados. “Aos 51 anos esse foi o primeiro concurso que eu fiz. Eu nem cogitava a possibilidade de fazer algum, só pensava em terminar os estudos e enviar currículos. Micheline me chamou uma semana antes da realização das provas e me disse que acreditava que eu poderia passar”, ressaltou.

É tudo tão mágico que acabei por coincidência ou não me instalando numa casa que se chama Recomeço. Cheguei muito debilitada emocionalmente, mas com a ajuda de toda equipe me recuperei. Eu não acreditava em mim, mas eles acreditaram. Agora estou empregada e a partir do dia 16 de outubro eu vou trabalhar como atendente de copa de cozinha numa empresa organizada e com carteira assinada. Se eu não tivesse esse espaço para recomeçar a minha vida, eu estaria na rua, sem ter sequer uma roupa pra vestir”, disse.

No próximo dia 30 de outubro completa um ano que Dinorá chegou à capital pernambucana e ela garante que não vai esquecer o tratamento recebido pelos recifenses. “Eu tenho que agradecer à cidade do Recife e a toda equipe que coordena essa Casa, nem na minha cidade fui tão bem recebida e nunca tive a oportunidade de fazer cursos gratuitos. Vou voltar a ter minha privacidade, preparar minha própria comida, cuidar mais de mim e começar um curso de inglês; como vou atuar no segmento da hotelaria e a Copa do Mundo está chegando, quero ficar mais qualificada para receber bem os turistas”, comentou.

Assim como Dinorá Vieira, muitas outras pessoas são abordadas pelas equipes do IASC e levadas para um dos 15 equipamentos de acolhimento do município. A estrutura conta ainda com cerca de 300 profissionais (psicólogos, educadores sociais entre outros) para garantir o processo de abordagem, cuidados e recuperação social. Com isso, o IASC consegue atender uma média mensal de 450 pessoas em situação de rua no Recife.

As pessoas que estão em situação de vulnerabilidade são encaminhadas através de vários órgãos para o serviço de acolhimento da prefeitura. Contamos com três centros de referência que funcionam de segunda a sexta e 12 casas de acolhida abertas 24 horas. Nessas unidades oferecemos um atendimento que pode ser desde um local para tomar banho e guardar objetos pessoais, até um espaço onde essas pessoas poderão morar e passar por um processo de renovação”, explica Melissa Azevedo, diretora de Média Complexidade do IASC.

O contato com o serviço de acolhimento municipal deve ser feito por meio dos três Centros de Referência. Na Boa Vista tem dois núcleos situados nas ruas da Glória e Dom Manoel Pereira. Já o Centro do Torreão fica na Rua Cândido Lacerda, 354. Os telefones de atendimento são 3355.3063 e 3355.6623.