Projeto resgata memória dos estudantes desaparecidos durante a ditadura militar
“Marcas da Memória” é uma parceria entre a Prefeitura Municipal e governos federal e municipal
A Prefeitura do Recife iniciou, nesta segunda-feira, o projeto Marcas da Memória. O objetivo da ação é resgatar a história, ainda desconhecida, de desaparecidos políticos recifenses. A primeira instituição a receber o projeto foi a Escola Municipal Beberibe. Com a presença da secretária municipal de Direitos Humanos, Amparo Araújo, alunos e professores acompanharam o descerramento da placa em homenagem ao jovem recifense morto durante a ditadura, Luiz José da Cunha, conhecido como Comandante Crioulo. Antes do descerramento alunos do grupo de dança interpretaram músicas que marcaram o período pós-ditadura no país.
Marcas da Memória é uma parceria da Prefeitura Municipal e a Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, e a Secretarias Estaduais de Direitos Humanos e Educação. Além do levantamento dos presos políticos desaparecidos no Recife, dentro das escolas, o tema ditadura está sendo trabalhando de forma multidisciplinar, de acordo com a secretária Amparo Araújo. “O resgate histórico deste período do nosso país é fundamental e tem recebido inclusive atenções da presidente Dilma. Através das escolas estamos criando um espaço integrado em favor da memória, da verdade e da justiça, porque se nos roubam o passado, nos negam justiça”, ressalta. O próximo passo do projeto é identificar onde estudaram os dois primeiros mortos políticos da ditadura: Jonas Albuquerque e Ivan Aguiar. Pernambucanos, os dois foram assassinados em 1º de abril de 1964, quando marchavam em protesto contra a prisão do então governador do estado, Miguel Arraes.
Para a estudante Suzana Suelen, de 16 anos, a iniciativa é importante. “O projeto valoriza a história da nossa cidade e garante que essas pessoas não sejam esquecidas”, comenta. O professor de história da Escola Municipal Beberibe, João Paulo Costa, diz que o resgate da memória política recifense é contundente. “A gente fala de uma pessoa que é daqui, que tem essa aproximação muito grande. Nossos livros enfatizam muito a história contada no eixo Rio-São Paulo”, destaca.
Comandante Crioulo – De acordo com pesquisas realizadas pelo projeto, o Comandante Crioulo foi estudante secundarista da Escola Municipal Beberibe. Nascido na Capital pernambucana, Luiz José da Cunha iniciou militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi comandante da Aliança Nacional Libertadora. Foi morto aos 29 anos, durante uma operação de responsabilidade do DOI/CODI, em São Paulo, em 13 de julho de 1973. O Comandante Crioulo foi enterrado como indigente no Cemitério de Perus, no interior paulista. Os restos mortais do pernambucano permaneceram ali até 2006, quando foram identificados e encaminhados ao Cemitério Parque das Flores, no Recife.