Jornadas Gonzagueanas relembram momentos da trajetória de Luiz Gonzaga
João Silva, Jurandy da Feira, Onildo Almeida e Marcelo Melo
participaram do evento na tarde de sexta-feira (08) na Livraria Cultura
A tarde de sexta-feira (08) foi marcada por muitas lembranças de Luiz Gonzaga. Amigos e parceiros do Rei do Baião foram reunidos no evento Jornadas Gonzagueanas, uma realização do Memorial Luiz Gonzaga em homenagem ao centenário do Velho Lua. No auditório da Livraria Cultura, os compositores João Silva, Jurandy da Feira, Onildo Almeida e Marcelo Melo relembraram diversos momentos marcantes da trajetória de Luiz Gonzaga e contaram histórias sobre a composição de músicas como Pagode Russo, Nem se despediu de mim, Danado de Bom, Regresso do Rei, Nos cafundó de Bodocó e Terra, Vida e Esperança, que vez ou outra eram cantaroladas durante o encontro pelos próprios compositores. A mediação do debate foi realizada pelo poeta Pedro Américo.
A importância da obra de Luiz Gonzaga para a valorização da cultura nordestina foi ressaltada por todos. “Ele foi o único homem que teve coragem de vestir o gibão de vaqueiro e viajar para o Rio de Janeiro para cantar baião. Ele rompeu barreiras e hoje ele é o que é”, afirmou João Silva. Onildo Almeida reforçou o coro: “Luiz Gonzaga abriu os caminhos para a música nordestina. O início no Rio de Janeiro foi árduo. Miguel Lima levava Gonzaga pra frente dos cabarés e restaurantes para tocar”.
O músico Marcelo Melo, do grupo Quinteto Violado, destacou a importância do legado de Luiz Gonzaga ser conhecido pelas novas gerações. “Os jovens não devem perder nunca a história de Gonzaga. Ele foi uma unanimidade nacional. Era muito complicado um artista entrar no eixo Rio-São Paulo”, declarou. “A sonoridade do Quinteto Violado veio de Luiz Gonzaga. Nós, do Quinteto Violado, tivemos o privilégio de conviver com Gonzaga. Ele não abria concessão. Não entrava no vulgar. Ninguém traduzia melhor o comportamento das pessoas nos forrós e nas feiras como Luiz Gonzaga”, disse.
A parceria desenvolvida por Gonzaga com outros compositores também foi destaque na conversa. Jurandy da Feira contou que a primeira música que fez para Gonzaga gravar foi uma encomenda: “Gonzaga disse que as pessoas de Bodocó estavam cobrando dele uma música que falasse da cidade e me pediu para fazer”. Uma semana depois, Nos cafundó de Bodocó estava pronta. Depois desta, Jurandy teve outras músicas gravadas por Gonzagão, a exemplo de Terra, Vida e Esperança. “Ele sempre foi uma pessoa muito atenciosa comigo”, relembrou Jurandy.
Em outro momento, João da Silva declarou como Luiz Gonzaga foi responsável por revelar diversos talentos e contou a inspiração para músicas como, por exemplo Pagode Russo. “Se você tivesse valor, ele (Luiz Gonzaga) dava um jeitinho para os outros perceberem o seu valor, até porque isso o fortalecia também”, disse. Sobre os curiosos versos “Ontem eu sonhei que estava em Moscou dançando pagode russo na boate Cossacou”, João Silva contou que estava com Luiz Gonzaga no Rio de Janeiro quando viram dois homens estrangeiros vestidos com saias, então Gonzaga disse aos risos: “João, imagina a gente assim de saia lá em Exu e Arcoverde. Será que ia dar certo?” . E assim nasceria mais uma música de sucesso. “Ele dava os motes e a gente que se virasse para fazer a música”, disse João, responsável pela letra de Pagode Russo, que no debate fez questão de destacar como até hoje vários músicos se inspiram em Gonzaga para com a música nordestina ganharem seu sustento.