Paço do Frevo nasce para preservar e difundir ritmo
[caption id="attachment_43539" align="alignleft" width="680"] Equipamento foi inaugurado em frente à Praça do Arsenal, ocasião em que a cidade também recebeu o certificado de reconhecimento do Frevo como patrimônio da humanidade. (Foto: Andréa Rêgo Barros/ PCR)[/caption]
“A partir de hoje o Recife se transforma na cidade do Frevo e da cultura”. A declaração do prefeito Geraldo Julio traduziu bem o clima dos recifenses que lotaram a Praça do Arsenal neste domingo (9), Dia do Frevo, para a inauguração de um grande centro de referência e difusão do ritmo. O Paço do Frevo nasceu de uma parceria da Prefeitura com a Fundação Roberto Marinho, entre outros atores. No ato, o prefeito do Recife também recebeu o certificado de reconhecimento do Frevo como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade, título concedido pela Unesco em 2012.
A festa foi marcada pela presença de vários artistas. “Combinado” com o governador Eduardo Campos, o escritor Ariano Suassuna trocou as palavras do discurso por Frevo. Junto a Getúlio Cavalcanti e um enorme coro de vozes, o mestre entoou “Madeira do Rosarinho” e “Último Regresso” para dizer que “o Recife tem o Carnaval melhor do meu Brasil”.
Geraldo Julio fez um agradecimento especial a todos “músicos, cantores, aos que dançam e curtem o Frevo”. “Esse equipamento é para vocês. Ele fará com que o nosso patrimônio imaterial da humanidade se perpetue. Aqui vai se ensinar dança, música, produzir e difundir o Frevo nessas linguagens. A história do Frevo se mistura com a história da cidade. O Recife ganha um grande presente no Dia do Frevo”, destacou o gestor, que, acompanhado da primeira-dama Cristina Mello, conheceu os espaços do centro.
[caption id="attachment_43540" align="alignleft" width="680"] O escritor Ariano Suassuna também participou do evento. (Foto: Andréa Rêgo Barros/ PCR)[/caption]
Homenageado pelo Carnaval do Recife 2014 junto com o Frevo, o multiartista Antônio Carlos Nóbrega também enfatizou a importância do espaço. “Dignificando o Frevo, estamos verdadeiramente transformando este bem para além do seu simbolismo, como parte fundamental da história e memória da nossa cultura”, comentou Nóbrega.
O Paço do Frevo tem como objetivo salvaguardar e perpetuar a riqueza do ritmo com exposições permanentes e temporárias e escolas de dança e música, além de um centro de documentação, um estúdio de gravação e uma rádio online. No espaço, com museografia assinada pela artista Bia Lessa, pernambucanos e turistas poderão conhecer ou relembrar histórias do Frevo e de seus tradicionais personagens durante o ano inteiro, não apenas no carnaval. O projeto foi pensado para dialogar constantemente com a cidade, transbordando para a tradicional Praça do Arsenal da Marinha - onde já acontecem apresentações culturais ao longo do ano.
“Estamos vendo nascer um lugar muito importante para o Recife. Este será um templo de cuidado com a memória, formação e difusão, para os que moram aqui e os que visitam a nossa cidade”, declarou o governador Eduardo Campos sobre o espaço, que contou com um investimento de cerca de R$ 13,2 milhões. O Governo de Pernambuco é um parceiro na realização do projeto, bem como o BNDES, Celpe, Instituto Camargo Corrêa, Instituto Votorantim, Itaú, Rede Globo, IPHAN e Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
Ao entrar no Paço, o público é recebido pelas cores e personagens do Frevo. Compositores, músicos, passistas, presidentes de agremiações, historiadores e pesquisadores, que, em vídeos exibidos nas paredes, falam sobre a história e a tradição do ritmo. No corredor seguinte, uma linha do tempo, que registra os acontecimentos sociopolíticos e culturais que contribuíram para o nascimento do gênero. Os visitantes também poderão incluir informações usando giz para escrever nas paredes, pintadas com tinta fosca verde, como se fosse uma grande lousa.
O térreo abriga também o Centro de Documentação Maestro Guerra Peixe, dedicado à produção, busca, sistematização, organização, armazenagem, preservação e acesso a documentos, conteúdos e informações relativos ao universo (histórico, antropológico, social, cultural e político) do Frevo.
Curadora do espaço, Bia Lessa ressaltou a expectativa de funcionamento. “Esperamos que o visitante sinta a força do povo que faz parte do universo do Frevo logo ao entrar no espaço. A função deste lugar é perpetuar e também criar, por isso também ofereceremos atividades formativas; porque não dá para falar do passado sem pensar no futuro e nem pensar o futuro sem olhar o passado”, explicou.
O espaço também contará com uma proposta educacional e com uma agenda anual que envolve a realização de oficinas, cursos e palestras, além das exposições, contemplando os mais variados públicos e com a intenção de ampliar e disseminar saberes e conteúdos vinculados ao ritmo.
No primeiro pavimento do edifício fica a Escola de Música, que, a partir do ensino e da pesquisa, permitirá um contato sistematizado com o ritmo fervente em suas várias linguagens e tipos, dando oportunidade para a formação de músicos e a criação de novos repertórios, além de contribuir para o desenvolvimento e a perpetuação do Frevo. Neste andar também fica o estúdio de gravação e a sala da rádio online, para a difusão do que for produzido nas aulas e no estúdio. O primeiro andar abriga ainda a sala dedicada a exposições temporárias.
Ocupado pela Escola de Dança, o segundo pavimento vai concentrar as atividades voltadas ao desenvolvimento profissional, físico, social e cultural de dançarinos. Nesse andar há também salas para aulas de dança para pessoas interessadas que queiram aprender o Frevo; oficinas de cenário e figurino e uma sala para mostras de curta duração. O último andar do Paço se divide em três ambientes. O primeiro é voltado para a música; o segundo, para o passo. Os dois têm salas individuais para projeção de vídeos produzidos especialmente para o Paço, uma dedicada à dança e outra à música. Já o terceiro e principal ambiente é dedicado ao Frevo em sua forma mais ampla, unindo ritmo e dança numa grande sala que transborda de poesia e sons.
Para marcar a inauguração do equipamento, vários artistas estiveram presentes, muitos deles fundamentais para a difusão do Frevo na cidade, no Brasil e no exterior. Nomes como Almir Rouche, Claudionor Germano, Maestro Spok, Maestro Forró e o artista plástico Abelardo da Hora abrilhantaram a abertura do Paço do Frevo.
Na ocasião, o prefeito Geraldo Julio reforçou que 98% da grade de programação do Carnaval é composta por artistas da terra. “Valorizamos nossa cidade, nossa cultura e entendemos a grandiosidade de tudo que se produz aqui. Este será mais um ano de um lindo Carnaval”, afirmou, enfatizando que, como no frevo-canção, no Recife há de se ter o carnaval melhor do Brasil.
[caption id="attachment_43542" align="alignleft" width="680"] O imóvel tombado onde o Paço está instalado possui cerca de 1.700 metros quadrados e foi completamente recuperado. (Foto: Andréa Rêgo Barros/ PCR)[/caption]
ESTRUTURA - Com quatro pavimentos divididos em cerca de 1.700 metros quadrados, o imóvel tombado onde o Paço está instalado foi completamente recuperado - depois de passar 36 anos sem uso - e integra o complexo cultural, histórico e turístico das cidades de Recife e Olinda, tombado pelo IPHAN desde 1998. O projeto de restauração incluiu a recuperação das fachadas e a adaptação dos espaços internos. Tudo levou cerca de quatro anos. Foi utilizada uma técnica inovadora em obras de restauro, a partir do uso de fibra de carbono, vigas e lajes foram recuperadas. Para possibilitar a transpiração do reboco, a fachada recebeu uma pintura especial à base de silicato de potássio, resistente e lavável. Cerca de 180 pessoas estiveram envolvidas diretamente na obra.
FORMAÇÃO - O Núcleo de Ações Educativas vai realizar visitas guiadas, programas de formação de professores e ações especiais com as comunidades do seu entorno. As ações buscam ainda garantir ampla acessibilidade, contribuindo para o exercício da cidadania, da diversidade, diálogo, troca de experiências, construção e difusão do conhecimento.
As escolas de dança e de música do equipamento têm o objetivo de despertar o interesse pelo ritmo. Os cursos e oficinas buscam a valorização da memória e da perpetuação dessa manifestação cultural, visando à formação de novos profissionais, não só para a produção de acervo, mas para atuação em outras áreas como confecção de chapéus, máscaras e adereços, artesanato para estandartes e flabelos, maquiagem, entre outros.
Voltadas para a Comunidade do Pilar, próxima ao Paço e onde vivem cerca de 460 famílias, está prevista uma programação específica para crianças, jovens e adultos. As atividades que possibilitarão o acolhimento e o desenvolvimento de experiências estéticas, culturais, sensoriais e reflexivas, além de criar oportunidades, numa perspectiva futura, de inserções profissionais na área de música e dança.
DIA DO FREVO - O Bairro do Recife inteiro se rendeu muitas homenagens ao Frevo. Desde às 15h, clarinadas na Rua da Moeda e na Avenida Rio Branco anunciaram a festa que contou com a saída de oito agremiações e 10 orquestras. De cada um desses pontos saiu um cortejo carnavalesco rumo à Praça do Arsenal.
Às 19h foi lançado o CD do I Festival do Frevo da Humanidade. O concerto teve a participação dos 15 vencedores e da Orquestra de Frevo da Banda Sinfônica do Recife, sob a regência do Maestro Nenéu Liberalquino. Na ocasião, os autores das músicas ganhadoras receberam 50 CDs, cada, e um troféu produzido por Abelardo da Hora especialmente para o festival. O concurso foi promovido pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura, no intuito de estimular a produção musical e reconhecer novas composições, nas categorias Frevo Canção, Frevo de Rua e Frevo de Bloco. Foram 372 músicas inscritas de todo o país. Dos 24 finalistas, foram escolhidos os 5 melhores de cada modalidade, que receberam premiação em dinheiro, no total de R$ 128 mil.