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Cultura | 10.05.22 - 18h53

Prefeitura do Recife formaliza os quatro primeiros Patrimônios Vivos da cidade

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Prefeito João Campos recebeu os quatro primeiros Patrimônios Vivos do Recife, que foram eleitos pelo Conselho Municipal de Política Cultural na semana passada. Patrimônios desfilarão pelo Bairro do Recife amanhã (11), onde também se apresentam no palco ‘Recife, Cidade da Música’ (Foto: Rodolfo Loepert/PCR)

Oficialmente inscritos na posteridade da memória cultural do Recife, Zenaide Bezerra, Mestre Teté e as agremiações Pierrot de São José e Gigante do Samba se consolidam como os primeiros Patrimônios Vivos da capital. Cultura, emoção e reconhecimento afloraram na tarde desta terça-feira (10) em formalização do registro do prefeito João Campos com os brincantes e brinquedos que há décadas desfilam a cultura recifense. Com o reconhecimento, a partir de julho, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, irá assegurar aos patrimônios bolsas de incentivo mensais, nos valores de R$ 1.650, para os indivíduos, e R$ 2.200, para os grupos, em caráter vitalício, inalienável e impenhorável. Para comemorar, os patrimônios foram convidados a se apresentarem nesta quarta-feira (11) no palco “Recife, Cidade da Música”, na Praça do Arsenal. 

 

“Hoje a gente recebeu os quatro primeiros patrimônios vivos da nossa cidade. Uma ação do poder executivo em que a gente propôs Projeto de Lei para que o Conselho Municipal de Cultura fizesse eleição para reconhecer, a partir de hoje, que Dona Zenaide, Mestre Teté, Pierrot de São José e Gigante do Samba são patrimônios vivos do Recife. Para a gente construir o futuro, a gente tem que conhecer a nossa história. Mais do que conhecer, nós temos que reconhecer e valorizar. De agora em diante, todos os anos, o Recife vai eleger quatro quatro patrimônio vivos de maneira permanente para que as novas e futuras gerações conheçam e valorizem a nossa história.Viva o Recife e viva a nossa cultura”, anunciou o prefeito João Campos. 

 

Os quatro patrimônios vivos foram escolhidos na última semana, após votação do Conselho Municipal de Política Cultural, com os votos de 23 conselheiros, entre representantes da sociedade civil e governamentais. Concorriam ao título 18 defensores das manifestações culturais recifenses, que se sagraram finalistas após as etapas de validação documental e recurso das inscrições e de avaliação de mérito, esta última realizada pela Comissão Especial de Análise. A etapa seguinte foi a de defesa de candidaturas, em audiência pública gravada, que teve também seu conteúdo disponibilizado a todos os conselheiros, em áudio e vídeo.

 

“Eles realmente fizeram história. Para chegar aqui, passaram por um processo de análise de candidatura, realizado por uma comissão, passaram por reuniões abertas de defesa dessa candidatura, até a escolha final, numa votação do Conselho de Cultura. Agora selecionados, passam a receber apoio mensal da Prefeitura, podendo intensificar a transformação e transmissão de seus saberes sobre a nossa cultura. O critério foi analisar quem faz história, quem vem trazendo conhecimento e praticando a cultura de geração para geração, para aumentar o interesse das pessoas sobre nossas tradições. É difícil encontrar uma cidade que tenha uma cultura tão rica e tão diversa como a nossa”, destacou o secretário de cultura do Recife, Ricardo Mello.

 

Resultado de amplo debate, o Registro de Patrimônio Vivo Municipal representa a materialização de uma política pública de cultura que prioriza a promoção, a difusão e o fomento dos bens intangíveis do Recife, com objetivos de salvaguardar, redimensionar espaços de ação e dar continuidade histórica de relevância para a memória cultural e artística da cidade. 

 

Considerada a mais antiga passista em atividade do Brasil, Zenaide Bezerra tem 73 anos de idade e pelo menos 65 de frevo. Começou a dançar reproduzindo os ensinamentos e movimentos do seu pai, o renomado passista Egídio Bezerra. Em 1975, montou um grupo de dança, Grupo Folclórico Egídio Bezerra, que se dedica a transmitir, desde então, as tradições pernambucanas a muitas gerações de recifenses. Zenaide jamais aposentou a sombrinha e participa ininterrupta e efetivamente, até hoje, da programação do Carnaval do Recife. “Eu nem imaginava, nem tão cedo, ser patrimônio vivo da cidade. Eu comecei a dançar aos oito anos com o meu pai. O que eu mais gosto de dançar é frevo, porque é muito bom. Quando a gente dança, a gente joga tudo para o alto e escuta só a festa tocando. É bom demais. Se botar xaxado a gente dança, se botar forró a gente dança. O negócio é aparecer. Assim a gente vai dançando, brincando e criando um tiquinho dali e aqui”, relatou.

 

Com o sentimento de gratidão aflorado, o representante da agremiação Pierrot de São José, Andrey Caminha, destaca que o reconhecimento motiva para fazer a história do bloco se perpetuar em todos os cantos da cidade. “Esse reconhecimento é muito gratificante. É válido demais João Campos fazer esse reconhecimento para os 44 anos do São José.  Toda a nossa família fica muito feliz. Desde a partida da nossa mãe, em setembro passado, a gente tem a obrigação de continuar esse legado e continuar essa história que ela fazia com tanta fé, com tanta crença, com tanta credibilidade, para dar continuidade nas ruas do Recife, Pernambuco, Brasil e mundo afora”, disse. O Bloco Pierrot de São José foi fundado em 1978 pela carnavalesca Sevy Caminha. 

 

Marize Félix, vice-presidente do Gigante do Samba, lembra que a comunidade e os integrantes da agremiação vibraram e foram ao delírio quando souberam do reconhecimento. “As pessoas sabem que Recife é multicultural, que Recife tem samba de qualidade, que o Gigante do Samba existe. O reconhecimento vale mais do que tudo, vale mais do que dinheiro, porque através dele você fica forte para se valorizar. Foram muitas gerações que trabalharam para a Gigante chegar onde está”, lembrou. 

 

Aos 76 anos, Antônio José da Silva Neto, nasceu, cresceu e foi até rebatizado entre os maracatuzeiros, sagrando-se o Mestre Teté, do Maracatu Nação Almirante do Forte, agremiação cuja história se confunde com a sua. “Nasci no Maracatu. Maracatu é toda a riqueza para mim. Depois que meus pais faleceram, a Nação Almirante do Forte ficou para mim. É quase um filho meu. Por isso, vale tudo pra mim, vale a minha vida”, contou.

 

Patrimônios em foco no Bairro do Recife amanhã - Amanhã (11), os quatro Patrimônios Vivos têm um encontro marcado com o Recife, para celebrar e desfilar suas agora patrimonializadas tradições pelas ruas do Recife Antigo. A concentração será às 17h30, no Boulevard Rio Branco, na altura do Banco do Brasil, de onde sairá o cortejo, com direito a orquestra de frevo e clima de Carnaval em plena quinta-feira. A Gigante do Samba levará para as ruas do bairro histórico sua bateria e suas baianas, mestre sala e porta bandeira. O Pierrot de São José desfilará completo, em cores e alegrias, evocando Momo em pleno mês de maio. Seu Teté comandará a percussão ancestral de seu Maracatu Almirante do Forte. E Zenaide completará o cortejo, acompanhada por passistas que congrega e forma há tantos anos. 

 

O desfile culminará no palco Recife, Cidade da Música, montado pela Prefeitura do Recife, na Praça do Arsenal, para oferecer uma diversificada programação de shows, que começou na última sexta-feira (6) e só acaba no próximo domingo (15). Após o cortejo dos Patrimônios Vivos, se apresenta o Afoxé Oxum Pandá, seguido do grande encontro do frevo do Recife com o de Salvador, representados por Bia Villa-Chan e Armandinho, num congraçamento cultural entre as únicas cidades brasileiras com produção criativa e musical chancelada pela Unesco, que dá início às celebrações dos dez anos do frevo como patrimônio imaterial da humanidade.