Julho é mês de performance artística na Galeria Janete Costa
Cinco artistas pernambucanos foram convidados para apresentar trabalhos que desenvolvam a poética e a performance na segunda edição do programa "Na Pauta", da Galeria Janete Costa, no Parque Dona Lindu. Durante o mês de julho, a cada final de semana, o público poderá ver e participar da execução das intervenções de Bruna Rafaella, Daniel Santiago, Izidorio Martins, Beth da Matta e Danilo Galvão.O projeto de ocupação da Galeria Costa pretende abrir espaço para estimular a produção e exibição de trabalhos artísticos que envolvam a ação.
De acordo com Joana Darc, diretora da Galeria vinculada à Secretaria de Cultura do Recife, a ideia é impulsionar o público a pensar temas como o corpo no espaço, apropriação e ação. “As reflexões passarão também por outros assuntos, que deverão surgir a partir das proposições e poéticas de cada artista e as formas de ressignificação do público visitante”. O primeiro fim de semana da programação, neste sábado (13) e domingo (14), terá a artista visual Bruna Rafaella, com suas Entidades Gráficas.
De caneta em punho, durante os os dois dias, das 15h às 20h, Bruna se dedicará a preencher algumas paredes da galeria com desenhos figurativos e abstratos. Quem for à Galeria terá a oportunidade de observar a fluidez do processo de confecção da transposição da ideia do desenho para a arquitetura do espaço. Diante da imaculada parede em branco, como se conversasse com a estrutura, a artista passa a psicografar esse diálogo numa espécie de dança, embate entre o concreto e o corpo frágil em contínuo exercício.
Bruna conta que já vem experimentando este projeto desde 2006, com o Coletivo Branco do Olho. De lá pra cá, o trabalho foi desenvolvido no Festival de Inverno de Garanhuns e no projeto Fachada, do Museu Murillo La Greca, e ganhou novos contornos no olhar e nas técnicas utilizadas. “O corpo do artista como suporte proporciona um trabalho direto de desenvolvimento da linguagem com a arquitetura. O desenho tem disso, por isso se insere no campo da performance. Sou eu, dialogando com a vontade de um desenho, de uma estrutura... O desenho vai fazer essa linha, com um jeito bem orgânico de preencher o espaço como um fluxo de energia”. Após a realização da ação, os resíduos ou resultados deles ficarão na Galeria e o público poderá conferir nos finais de semana seguintes.
No dia 20 de julho, Daniel Santiago terá 100 convidados, entre artistas e público visitante, para arremessar cem ovos-tinta (tinta embalada em casca de ovo) sobre um painel com a inscrição Verzuimd Braziel (Brasil desamparado). Os participantes formarão quatro paredões de vinte e cinco atiradores que obedecerão ao comando do artista plástico.
No dia 21 de julho será a vez de O Peso da Busca, de Izidorio Cavalcanti. Com uma pilha de 300 paralelepípedos, o artista transporta as pedras, uma a uma, para outros espaços dentro da Galeria, podendo contar, ou não, com a contribuição do público, propondo uma reflexão acerca do contínuo embate entre o desejo de se mover e a capacidade de resistência do corpo. A tarefa não se esgotará no dia da ação do artista, e deverá permanecer em contínuo movimento e transformação, a partir da ação do público que visitar a Galeria nos outros finais de semana de julho.
As sensações e percepções provocadas pela gastronomia serão o fio condutor de Do Deleite: Trigo, Parma e Oliveiras, que será realizado no dia 27 de julho, por Beth da Matta. De acordo com a artista, que também é diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), a ideia é mostrar o processo de transformação da matéria prima em alimento, o deleite e o prazer de consumí-lo e o descarte. Para encerrar o "Na Pauta", o fotógrafo Danilo Galvão apresenta a performance Banho, no dia 28, onde gotas de tinta projetadas sobre o homem que medita representam a tortura que o mundo das ideias impõe ao Eu e a sua suposta liberdade.
Artistas convidados:
Bruna Rafaella
Possui Mestrado em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina (São Paulo, 2011) e graduação em Licenciatura em artes plásticas pela Universidade Federal de Pernambuco (Recife, 2006). Artista visual, produtora cultural, professora do curso de artes visuais da Aeso - Faculdades Integradas Barros Melo e curadora independente. Dá ênfase na pesquisa artística, atuando principalmente nas seguintes vertentes: desenho, gravura, performance e fotografia.
- Trabalho apresentado: Entidades Gráficas
Esse trabalho de site specific faz parte das investigações da artista que giram em torno da edição de desenhos automáticos feitos diariamente ao longo de sua produção. Em um movimento contínuo, os desenhos do Entidades Gráficas invade o espaço da Galeria Janete Costa.
Daniel Santiago
Nasceu em Garanhuns-PE em 1939. Aprendeu a desenhar com um tio, Saul Santiago, pintor de propaganda da cachaça Chica Boa, nas paredes da cidade de Catende, Pernambuco. De 1962 a 1966 Daniel Santiago viveu na Bahia onde aprendeu a fazer xilogravura. Em 1967 lecionou desenho na Escola Nacional de Desenho em Curitiba-PR. É professor de artes plásticas formado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco em 1977. Jornalista formado pela Universidade Católica de Pernambuco em 1980. Fez Curso de Especialização de Desenho (1970), Curso de Pintura (1971 e 1972), Curso de Escultura (1973) e Curso de Teatro (1974) no Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais. Participou de várias comissões julgadoras em salões de arte. É artista plástico com catálogos de participação em mais de cem exposições no Brasil e no exterior.
- Trabalho apresentado: Verzuimd Braziel
Essa atividade terá a participação de cem pessoas, entre artistas e público visitante, selecionadas e convidados pelo artista, para arremessar cem ovos-tinta (tinta embalada em casca de ovo) sobre um painel com a inscrição Verzuimd Braziel (Brasil desamparado). Os cem participantes formarão quatro paredões de vinte e cinco atiradores que obedecerão ao comando de Daniel. O título do trabalho é um termo holandês pertencente a história do Brasil. Esta performance é uma homenagem ao Recife, quando era o centro cultural das Américas no século XVII, não tem nada a ver com a situação do Brasil atual.
Izidoro Cavalcanti
Formado em Desenho Arquitetônico, LICEU DE ARTES E OFÍCIOS, 1997 (Recife-PE). Aluno ouvinte da UFPE, 2004 a 2006 em vários cursos na área de artes. Trabalhando com arte há 15 anos, explora as mais diversas técnicas utilizando diversas linguagens, que vão desde o desenho à performance.
- Trabalho apresentado: O Peso da Busca
Neste happening o artista confronta uma pilha de 300 paralelepípedos. Num contínuo embate entre o desejo de se carregar/mover de lugar e sua resistência física, o artista transporta as pedras, uma a uma, para outros espaços dentro da Galeria, podendo contar, ou não, com a contribuição do público realização dessa tarefa que não se esgotará no dia da ação do artista, mas que permanecerá em contínuo movimento e transformação, a partir da ação do público que visitar a Galeria nos outros finais de semana de Julho.
Beth da Matta
Vive e trabalha em Recife, em 1999, é selecionada para o Salão Pernambucano de Artes Plásticas/ Novos Talentos (MAC, Olinda/PE). Em 2003 participa de Ações Contemporâneas – MAMAM/Recife-PE. Foi educadora de história da Arte – Kabum! – Escola de Arte e Tecnologia desde 2006 / OI Futuro. Atuou entre 2005 a 2008 na Direção do Museu Murillo La Greca, coordenou o SPA edições 2007 a 2011 e dirige o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães desde 2008.
- Trabalho apresentado: Do Deleite: Trigo, Parma e Oliveira
A Ação se apropria da gastronomia como principal condutor das relações humanas, promovendo com o público presente uma experiência gastronômica coletiva, inaugurando sensações e percepções através do ato de comer. A série, que vem sendo desenvolvida desde 2008, busca mostrar o processo de transformação da matéria prima em alimento, o deleite e o prazer de consumí-lo e o descarte. Na Galeria Janete Costa, Beth da Matta irá desenvolver a convivência com os visitantes e executar a feitura de um fettuccine, a massa fresca, demonstrando como pouquíssimos ingredientes podem proporcionar um resultado saborosíssimo.
Danilo Galvão
Recifense, começou suas buscas na arte ainda adolescente estudando teatro com Paulo Michelotto e atuando em algumas peças locais. Na faculdade de jornalismo se aproximou da fotografia e desde 2007 se dedica ao estudo e produção da imagem. Pós-graduando em jornalismo digital na AESO Barros Melo e fotógrafo pela Unicap. Publicou trabalhos na revista OLD e na Revista da Cultura. Participou de várias exposições coletivas como a mostra online FOTO_CRÍTICA e a V Mostra de Fotografia do Recife. Trabalhou no Atelier de Impressão, contribuindo com diversas exposições de pinturas, fotografia e mostras coletivas de artes visuais. Participando de trabalhos com artistas como Manuel Dantas Suassuna, Flávio Emanuel, Rinaldo Silva e Martha Araújo.
- Trabalho apresentado: Banho
A performance Banho nasceu do trabalho Veludo Branco com a necessidade de representar a meditação. No Veludo, o mundo íntimo é representado leve, branco e feminino. Desnudando o pensamento, as sombras íntimas e o vazio do Eu levam ao Banho, um convite ao preenchimento e autoconhecimento, um clarão para a sombra, uma tortura que critica. O Homem medita sentado, um vídeo pinga tinta sobre ele. O pingo sai de uma lâmpada, uma representação da tortura que o mundo das ideias impõe ao Eu e sua suposta liberdade.