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Cultura | 13.09.12 - 18h45

Olhares diversos sobre a obra de Edmond Dansot animam Café Cultural

Evento contou com parceria entre Aliança Francesa do Recife e Gerência de Fotografia - FCCR

[caption id="attachment_26061" align="alignleft" width="334"] Vida e a obra de Edmond Dansot foram tema do Café Cultural. Foto: Divulgação[/caption]

A vida e a obra do fotógrafo francês radicado no Recife, Edmond Dansot, foram tema do Café Cultural na Aliança Francesa do Recife – Unidade Derby, ontem à noite (12). No auditório lotado, estavam parentes e amigos de Dansot, fotógrafos, estudantes e amigos da fotografia. O evento foi fruto da parceria da Aliança Francesa do Recife com a Gerência de Fotografia - FCCR / Prefeitura do Recife. O olho mágico de Dansot prestou homenagem a este grande nome da fotografia, falecido aos 87 anos em março último e que dedicou quase 50 anos de sua vida a documentar cenas do nordeste brasileiro.

Para dar início à programação, séries de fotografias das linhas mais poéticas registradas por Dansot passaram pela curadoria do fotógrafo e Gerente de Fotografia da FCCR/Prefeitura do Recife para compor uma projeção de imagens. “Já havia um conjunto de imagens impressas eleitas pelo próprio fotógrafo e por sua esposa, Gisele Dansot. Outras imagens, encontrei nos álbuns de família, sobretudo a parte biográfica e as séries sobre as cidades e praieiras. Contei com essa seleção”, explica Josivan, que destaca também a importância dos ensaios sobre jangadeiros e coqueiros. Acompanhou a projeção, a gravação de uma música executada por Madame Dansot ao piano.

A primeira palestra sobre a trajetória de Dansot foi proferida por Isabella Valle, fotógrafa, pesquisadora, integrante do grupo 7Fotografia e professora da AESO. Isabella iniciou lamentando o falecimento dos mestres Alcir Lacerda e Edmond Dansot. Numa fala repleta de afetividade e emoção, descreveu passos que conhecia da biografia do fotógrafo e transmitiu conselhos que ela havia lhe dado em uma visita acompanhada também pela fotógrafa Ana Lira.

Isabella relembrou que otimismo, esperança e alegria eram mensagens importantes para Dansot, assim como transmitir coisas boas, corretas. “Dansot era um professor. Ele ensinou que nenhum fotógrafo pode ser inseguro e nos incentivou a acreditar e investir na fotografia. Ele participou do processo de transformação da imagem do fotógrafo no Recife. Naquela época, em que os fotógrafos de rua pediam um pagamento de entrada e faziam fotos sem ter filmes na máquina, ela abriu uma ‘boutique de fotografia’ na Rua das Ninfas”, relata a fotógrafa.

O olhar tropicalizado - Dando continuidade, José Afonso Jr. Falou sobre um aspecto que tem observado na obra de Dansot: olhar tropicalizado. Fotógrafo, pesquisador, professor da pós-graduação de Comunicação da UFPE, Afonso vem investigando a produção de Edmond Dansot como documentarista. “Chama a minha atenção a forma como Dansot encarava o próprio ofício. Ele não dizia que tinha 130 mil fotografias. Dizia: tenho 130 mil documentos organizados”, explica Afonso.

Segundo Afonso, “Dansot se constitui em um grande documentarista, que vai além da dicotomia entre documentação e expressividade, registro e subjetividade, integrando os vieses cultural e político. Dansot dizia que fotografar é, antes de tudo, enquadrar. Nas suas fotos, ele contextualizava o homem, o trabalho e o ambiente. Na tentativa de capturar belas imagens, Dansot, que se abaixava para fotografar as crianças, “mostrava o pobre, sim. O degradante, não”, explica o professor.

Sobre a importância dos quase 140 mil documentos produzidos por Edmond e meticulosamente organizados por Gisele Dansot, Afonso ratifica que “o acervo se refere a uma etapa precisa da fotografia brasileira que, por diversos motivos, não existe mais. Cada uma daquelas gavetas daria dez pesquisas”.

Encerrando a programação, Gisele Dansot, esposa do homenageado, subiu ao palco confessando sua emoção e dificuldade para falar, uma vez que fazia tão pouco tempo do falecimento do seu Edmond. Poeta, disse logo: “Falando com o coração, a dificuldade voa como uma gaivota”. E continuou expondo sua ideia de que Dansot teve duas vidas, uma como criança no sul da frança, que vem como missionário para o Brasil e outra como fotógrafo. Em seguida, expôs uma dúvida: “Cá para nós, será que ele tinha realmente vocação para ser missionário marista ou ele estava atrás de aventura?”, brincou Mme. Dansot.

Em determinado momento das suas vidas, ela contou, tiveram oportunidade de se mudar para o Rio de Janeiro. Dansot teria sido enfático, dizendo “Eu acredito, eu quero acompanhar o desenvolvimento do Nordeste”, Mme. Dansot relembra e arremata: “Acho que ele alcançou essa meta”.