Documentário "Vou Contar Para Meus Filhos" estreia no Recife
A secretária de Direitos Humanos, Amparo Araújo, participou do lançamento do filme, que narra a história de ex-presas políticas na Colônia Penal Feminina do Bom Pastor.
Por Pablo Ravel
A secretária de Direitos Humanos e Segurança Cidadã do Recife, Amparo Araújo, prestigiou, na noite desta quinta-feira (16), no Cinema Apolo, a exibição para convidados e parceiros do mais novo documentário pernambucano - “Vou Contar para os Meus Filhos”, de Tuca Siqueira. O vídeo, que contou com o apoio da Prefeitura do Recife, relata a história de 21 mulheres que foram presas políticas na Colônia Penal Feminina do Bom Pastor, no período de 1969 a 1979. O documentário é uma realização do Movimento Tortura Nunca Mais de Pernambuco, com o patrocínio do Projeto Marcas da Memória, da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça.
Estiveram presentes no evento, o chefe de Gabinete do prefeito, Felix Valente; o deputado estadual Luciano Siqueira; o vereador de Olinda Marcelo Santa Cruz, além das protagonistas do documentário. Pouco antes da apresentação, foram chamadas ao palco, a secretária Amparo Araújo; a vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Sueli Bellato; e as coordenadoras do Projeto Marcas da Memória, Yara Falcon e Lília Gondim - ambas presas políticas integrantes do grupo de mulheres penalizadas durante a ditadura militar.
Eu quero agradecer, em nome do prefeito João da Costa, a todos que estão aqui hoje. Espero que este vídeo, que foi feito de uma forma muito pedagógica pela nossa competente cineasta Tuca Siqueira, ganhe muitos prêmios, mas o prêmio maior que ele pode ganhar é ir para todas as escolas. Este é o compromisso maior que a gente tem. Continuar contando essa história para nossos filhos e netos e transformar o Brasil, como estamos transformando nos últimos 10 anos. Para que nossos descendentes tenham uma vida mais feliz, num País justo e igualitário para todos nós, enfatizou Amparo.
A vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Sueli Bellato, atentou para importância de mobilizar a sociedade para uma participação pública, através de licitações e editais de projetos que resgatem a memória da história do nosso País. O Projeto do Bom Pastor não se fecha aqui. Ela vai andar pelo Brasil. Os sonhos que estavam ontem, são os sonhos que continuam sendo alimentados hoje. Certamente este documentário nos ajudará a conquistar novos apoios, para que a gente chegue a um país com melhor distribuição de igualdade, justiça e soberania, afirmou Bellato.
Visivelmente emocionada após a exibição do vídeo, a ex-presa política, Teresa Vilaça, prestou uma homenagem a todos os companheiros mortos e desaparecidos durante a ditadura militar no Brasil. O Bom Pastor não foi apenas um lugar de sofrimento. Foi um lugar de muito estudo, de muita solidariedade, de muitas descobertas e de muita luta. Este é o sentido do Bom Pastor. Esse é o sentido desse registro. É a continuidade de nosso trabalho. Não deixamos de pensar o que pensamos naquela época, e não deixamos de atuar. A nossa participação continua e nós esperamos que esse documentário possa despertar e contribuir para que as pessoas se organizem de forma mais revolucionária, para que a gente possa assim, chegar ao socialismo, finalizou Teresa.
Documentário - O filme foi dirigido pela jornalista, fotógrafa e cineasta Tuca Siqueira, numa co-produção da Garimpo, Audiovisual e Comunicação e da Cabra Quente Filmes. Vou Contar para os Meus Filhos tem um objetivo didático, podendo ser apresentado para discussão em escolas, universidades, sindicatos, associações e demais instituições afins. Com duração de 30min, o filme mostra o reencontro das ex-presas políticas, quarenta anos depois, suas emoções, lembranças e perspectivas para o futuro. O DVD conta ainda com um bônus extra, com os depoimentos individuais dessas 21 mulheres.
Fiquei bastante emocionada em ser convidada para fazer parte deste projeto, até mesmo por uma questão familiar, pois meus pais também são ex-presos políticos. A nossa vontade é de poder dividir um pouco mais deste conhecimento, dessas histórias, que fazem parte da história do próprio Brasil, afirmou a diretora filme, Tuca Siqueira.
As mulheres retratadas, três já falecidas, são de vários estados do país e estiveram presas no Recife por lutarem pelo mesmo ideal: o fim da ditadura militar e da repressão que assombrou o Brasil entre 1964 e 1985. Na prisão, encontraram umas nas outras a solidariedade, grande trunfo que as uniu. Hoje, essas mulheres são grandes amigas, seguiram suas trajetórias de vida engajadas de algum modo na luta pelos direitos humanos e por um país mais justo, sempre contribuindo para a preservação da memória.