Seminário debate o desafio de se produzir acervos em Dança
Como conciliar a efemeridade do movimento e a perenidade dos acervos. Esse é apenas um dos desafios que circundam a produção de arquivos na área da Dança, debatidos no Seminário RecorDança, que teve início nesta sexta-feira (17). O encontro, realizado no Centro Cultural Correios, integra a programação do 19º Festival Internacional de Dança do Recife e continua neste sábado (18), com palestras e oficinas.
Neste primeiro dia do Seminário, a pesquisadora e dançarina carioca, Flávia Meirelles, levou aos participantes, no período da tarde, uma profusão de provocações que vêm sendo pensadas ao longo do processo de criação de acervo e de produção de conteúdo textual e audiovisual pelo grupo Temas de Dança. “Através do acervo outras pessoas podem ter uma ideia de uma pesquisa de movimento ou retomar as experiências vividas. O que chega até nós da dança? O que resta delas? De que forma a dança é afetada pelas formas de documentação?”, e continuou, “É preciso entender que a dança resiste a se comportar no formato tradicional de arquivo, o qual requer estabilidade e reprodutibilidade. Há uma expectativa de congruência entre o que foi registrado e o que está lá. Se já não é possível fazer isso com documentos, o que dirá de uma arte que tem o movimento como princípio?”.
Meirelles discorreu também sobre a perspectiva de transformar essa possível fragilidade da Dança – a efemeridade – em potência, uma vez que podem ser criadas tantas outras conexões e narrativas. “A Dança pode ser lugar de questionamento do arquivo. Temos que nos perguntar: que arquivo estamos produzindo e o que eles fazem de nós? Vamos agindo em oficinas, seminários, palestras, ao mesmo tempo em que pensamos como registrar isso em audiovisual, em texto. Buscamos produzir o arquivo e performá-lo. Esse acervo afeta o objeto pesquisado e produz em torno de si outras coisas”, concluiu.
Para Valéria Vicente, uma das coordenadoras do RecorDança, a realização do Seminário legitima e possibilita a continuidade do trabalho de memória que vem sendo desenvolvido pelo grupo, que há 10 anos começou a reunir informações sobre a Dança no Recife e hoje contabiliza mais de 700 documentos. “Esse ano, em parceria com o Festival Internacional de Dança do Recife, tivemos um recorte mais especializado, voltado pra gente tentar localizar a prática de história da dança em relação ao que está sendo produzido no Brasil. A gente acredita que a repercussão futura do que discutimos aqui vai beneficiar coreógrafos, bailarinos e pesquisadores que queiram compreender melhor como se dá o processo de escolha e organização desses documentos, ajudando a entender a própria história. Queremos pensar novas maneiras, também, de disponibilizar pra que esse conteúdo fique mais acessível”, explicou.
Após a palestra, ocorreu o lançamento do catálogo da exposição RecorDança 10 anos: construir, sentir e olhar a dança, que está aberta ao público no Centro Cultural dos Correios desde o dia 6 de agosto, até o dia 2 de novembro. A mostra, com curadoria de Liana Gesteira, Roberta Ramos e Valéria Vicente, reúne fotos, vídeos e documentos do grupo de pesquisa pernambucano, estruturando correlações entre bastidores, palco e plateia. No período da manhã, houve ainda a oficina Histórias de amor entre danças suas e dele(a), com a bailarina e pesquisadora paulista, Nirvana Marinho, do Acervo Mariposa.
A programação do Seminário RecorDança continua neste sábado (18), no Centro Cultural Correios, e o acesso é livre. Das 9h às 12h, haverá a oficina O hibridismo nas artes: contexto e genealogias, com Flávia Meirelles. À tarde, a partir das 14h, Nirvana Marinho ministra palestra com o tema História da Dança e acervo: estórias de amor; e na sequência, Valeska Alvim, professora de Artes Cênicas da Universidade Federal do Acre, conduz a conversa sobre Cartografia da Dança Brasileira: a realidade do estado do Acre. A programação do Seminário RecorDança será encerrada a partir das 17h, com a apresentação da pesquisa e lançamento do primeiro episódio do podcast Histórias ao Pé do Ouvido.
O 19º Festival Internacional de Dança do Recife é realizado pela Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife. Confira a programação, que acontece em vários teatros, espaços culturais e áreas públicas da cidade.