Mês da visibilidade trans: Prefeitura do Recife oferece ambulatórios para saúde integral da população transexual e travesti
Foi no bairro da Madalena, na Policlínica Lessa de Andrade, que o escritor e designer gráfico Dada Cartaxo encontrou acolhimento para realizar o seu processo transexualizador (hormonização). A equipe multidisciplinar do Ambulatório LGBT Patrícia Gomes, que funciona dentro da unidade de saúde, formada por médicos, psicólogo, enfermeira e assistente social, foi fundamental não só no início do acompanhamento, mas durante toda a jornada vivenciada por ele. O equipamento da Secretaria de Saúde do Recife tem o objetivo de promover saúde integral de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, interssexuais e pessoas não binárias da capital.
O local oferece exames clínicos e processo transexualizador ambulatorial (terapia hormonal), adequado à necessidade do usuário e da usuária. Atualmente, Dada Cartaxo continua sendo assistido pelo clínico geral do Ambulatório, além de receber encaminhamento para o uso das ampolas de testosterona e realizando exames clínicos periodicamente.
“Foi importantíssimo encontrar este serviço na Policlínica Lessa de Andrade e ser atendido pelos profissionais de lá. Para mim, os acolhimentos em grupo fizeram a maior diferença, porque eu pude ver e entrar em contato com várias pessoas trans que, como eu, passaram por coisas e demandas similares, mesmo tendo uma vida tão diferente, sendo de realidades diversas. Saber que você não está só, que não é um ‘estranho’ ou uma pessoa ‘abjeta’, e que há várias pessoas passando por situações parecidas fez eu me sentir mais pertencente e ativo para a vida”, conta o escritor e designer gráfico.
As pessoas trangêneras (transexuais, travestis e não binárias) são aquelas que não se identificam com o gênero ao qual foi designado em seu nascimento. O dia 29 de janeiro celebra o Dia Nacional da Visibilidade Trans, data instituída após um ato nacional para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, em 2004. A celebração é um marco na história do movimento contra a transfobia e na luta por direitos das pessoas trans. Por isso, o mês de janeiro foi escolhido para ser lembrado como o mês da visibilidade trans.
O acompanhamento realizado com Dada se estende também a diversos recifenses que procuram o Ambulatório LGBT Patrícia Gomes para atendimento de clínico geral, hormonioterapia, psicoterapia, exames clínicos e Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) de risco à infecção pelo HIV. O espaço, inaugurado em novembro de 2017, foi o primeiro ligado à Atenção Básica em Pernambuco a promover a saúde integral dessa população. São mais de 1,2 mil pessoas LGBTQIA+ que, ao longo dos últimos cinco anos, foram acolhidas, atendidas e acompanhadas pelos serviços do espaço. Em média, 100 atendimentos são feitos por semana, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, por demanda espontânea, sem a necessidade de marcação.
Além do Ambulatório LGBT Patrícia Gomes, mais um equipamento da Rede Municipal reforça o compromisso da Prefeitura do Recife na garantia do acesso à saúde para as pessoas trans. O Ambulatório LBT, localizado no Hospital da Mulher, no bairro do Curado, oferece atendimento clínico em ginecologia, endocrinologia, hormonioterapia, psicologia, serviço social, além de exames clínicos, para mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais. O atendimento acontece também por demanda espontânea, sem a necessidade de marcação, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
PATRÍCIA GOMES – O nome do ambulatório localizado na Policlínica Lessa de Andrade é em homenagem a uma transativista que foi uma das sócias-fundadoras da Articulação e Movimento para as Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans-PE) e atuou na promoção dos direitos e cidadania das mulheres trans.
PREP E PEP - A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e Profilaxia Pós-Exposição (PeP) ao HIV é oferecido pela Secretaria de Saúde em cinco diferentes unidades de atendimento da Rede Municipal.
A PrEP é ofertada no ambulatório LGBT Patrícia Gomes, na Policlínica Lessa de Andrade, na Madalena, e no Serviço de Atenção Especializada (SAE) na Policlínica Gouvêia de Barros, na Boa Vista, para homens gays, homens que fazem sexo com homens (HSH), profissionais do sexo, casais sorodiferentes e pessoas transexuais e travestis. Esse tipo de profilaxia consiste no uso preventivo de medicamentos antirretrovirais, antes da exposição sexual ao vírus, para reduzir a probabilidade de infecção. Esse protocolo clínico faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS) com o objetivo de evitar infecções pelo vírus HIV, pelas hepatites virais e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).
Já a Profilaxia Pós-Exposição (PeP) é ofertada em casos de violência sexual, relações sexuais sem camisinha ou em caso de acidente com o uso do preservativo (rompimento ou saída) durante ato sexual, casos de acidentes com materiais perfuro cortantes ou contato direto com material biológico infectado. No Recife, as Policlínicas Barros Lima, em Casa Amarela, Agamenon Magalhães, em Afogados, e Arnaldo Marques, no Ibura, oferecem a PeP, que deve ser iniciada preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição, e no máximo em até 72 horas.
PROGRAMAÇÃO - Na 3ª Semana Municipal da Visibilidade Trans, o Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBTI+ será palco de diversas ações. Na próxima segunda-feira (23), às 14h, será realizado o Lançamento da Exposição: Memória Pernambucana de Margareth Nunes. O evento é uma parceria com a Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans) e pretende contar a história de uma mulher trans mais antiga de Pernambuco.
Outra parceria com a Amotrans é a 3ª Edição do Festival Cultural Trans que será realizada no dia 28 de janeiro, com apoio das secretarias e demais órgãos do município, a exemplo da Dircon, Emlurb, CTTU, Secretaria de Meio Ambiente,Fundação de Cultura e Polícia Militar de PE. O festival será realizado a partir das 18h, no Pátio de Santa Cruz, no bairro da Boa Vista.
No dia 30 de janeiro, o Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBTI+, realiza, às 14h, uma Oficina de Escrita de Projetos para os Editais do Funcultura. A oficina tem como objetivo fomentar o desenvolvimento artístico e movimentar a cadeia produtiva cultural de pessoas Trans, através do desenvolvimento de projetos para os editais de culturas artísticas.
Fechando as ações, no dia 31 de janeiro, às 14h, será realizado, no Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBTI+, o Cine Debate sobre a vivência do corpo trans e o desafio de viver em uma sociedade transfóbica. O debate será intermediado pela psicóloga do Centro, Verônica Valente.