Procissão dos Santos uniu fé e festa nas ruas da Zona Norte
Desfile desceu do Morro da Conceição até o Sítio Trindade
A forte religiosidade do período junino ganhou as ruas na última sexta-feira (17) na Zona Norte do Recife. Numa mesma noite, diversas bandeiras de São João, São Pedro e Santo Antônio de bairros como Água Fria e Brasília Teimosa e um andor com os santos saíram em desfile da Igreja do Morro de Conceição até o Sítio Trindade, principal polo dos festejos juninos do Recife. As quadrilhas Tradição, Origem Nordestina (ambas do Morro da Conceição) e Menezes na Roça (Macaxeira), a Banda de Música de Música Vereda Tropical, bacamarteiros e a Forrovioca também saíram em cortejo, mostrando a dualidade do profano e religioso.
Pelo quinto ano, a Procissão dos Santos, organizada pela Prefeitura do Recife com o apoio da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e dos grupos populares, mostrou como a fé e a festa andam juntas no mês de junho. “Essa procissão que une vários santos é pioneira. O mote é o agradecimento dos quadrilheiros, músicos, dos mestres das bandeiras e de todos que tem fé, afirmou o pesquisador Marcelo Varela, da Fundação de Cultura Cidade do Recife. Em diversos pontos da procissão, as pessoas aguardavam as bandeiras dos santos juninos, o forró e a dança das quadrilhas.
“Eu moro aqui perto e todo ano espero a descida da procissão do Morro da Conceição. É muito lindo. Sou católica, devota de todos os santos”, afirmou Maria das Graças do Nascimento, de 60 anos de idade, enquanto admirava o desfile passando pela Avenida Norte. “A gente da quadrilha vive o ciclo junino e fazemos pedidos aos santos, por isso participamos da procissão”, explicou o rei do milho e coreógrafo da Quadrilha Origem Nordestina, Eric Marinho, de 22 anos, quando passava pela Rua da Harmonia, sob o pé-de-serra da sanfona, zabumba e triângulo, ampliado pelo som da Forrovioca.
Já no Sítio Trindade, a artesã e comerciante Sueli Francisca, 54 anos, também voltava a sua atenção para o desfile, mas atenta à energia da dança dos quadrilheiros. “Gosto de ver a procissão, acho bonito, mas não sou muito religiosa. Gosto da participação das quadrilhas”, ressaltou. Reunidas no Palhoção do Sítio, os grupos de bandeiras e quadrilhas dançaram em volta dos santos do andor. No palco, o mestre Ubiracy Ferreira, 73 anos, da Bandeira de São João do Balé de Cultura Afro (bairro de Água Fria), cantou as músicas populares próprias do período, como “Colheita do Trevo” e “Capelinha de Melão”.
“Quando estamos na igreja é uma procissão religiosa, depois que o cortejo vai às ruas vira Acorda-povo e canta músicas semiprofanas. Essa Bandeira de São João foi da minha bisavó, tem 100 anos, foi passando por várias pessoas da família e hoje está com meu filho Tiago”, contou o mestre Ubiracy, revelando as origens da tradição junina da sua família, que ainda mantém o grupo de dança afro e o Maracatu Sol Nascente.