Secretaria de Desenvolvimento Social, Direitos Humanos, Juventude e Políticas Sobre Drogas -SDSDHJPD

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Direitos Humanos | 20.11.18 - 14h56

Abertura da 6ª Jornada de Direitos Humanos do Recife destaca importância da Consciência Negra

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Nestas quarta e quinta, os debates sobre igualdade racial continuam no seminário promovido pela ONU Brasil junto com a Frente Nacional de Prefeitos e a PCR, na Universidade Católica (Foto: Daniel Tavares/PCR)

 

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Feira Afroempreendedora, oficina de dança afro, contação de histórias com a temática da igualdade racial e serviços de saúde no Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio, marcaram a abertura da 6ª Jornada de Direitos Humanos (JDH) da Prefeitura do Recife, nesta terça-feira (20), Dia da Consciência Negra. A igualdade racial é o foco dos primeiros dos 20 dias de debates porque a programação tradicionalmente começa na data da morte de Zumbi dos Palmares.

Com mais de 100 ações em cerca de 30 bairros da cidade até o dia 10 de dezembro, a JDH é organizada pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife (SDSJPDDH) há seis anos, em parceria com diversas outras pastas da Prefeitura do Recife e outras instituições, como o escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil, o Movimento Negro Unificado (MNU) e a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro).

Para a gerente de Igualdade Racial do Recife, Girlana Diniz, mesmo 130 anos depois da abolição da escravidão no Brasil, a população negra ainda arca com os resquícios desse período. “Aproveitamos a data da morte de Zumbi dos Palmares para refletir a situação dos negros na sociedade. Mais de 54% da população é negra, mas apenas 34% dos universitários são negros. Por outro lado, mais de 70% das famílias beneficiárias do Bolsa Família são negras, assim como 77% dos jovens que morrem são negros. Não é 'mimimi'. Esses dados evidenciam o quanto essa população ainda é mais vulnerável e está à margem da sociedade”, avaliou a gestora da SDSJPDDH.

A abertura da jornada, no Pátio de São Pedro, aconteceu junto com uma edição especial da Terça Negra, que é realizada todo mês pelo Movimento Negro Unificado, com apoio da Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura, da Fundação de Cultura Cidade do Recife e do Núcleo de Cultura Afro-brasileiro.

O coordenador do Núcleo Afro, Acássio Jamaica, explicou que, para comemorar o Mês da Consciência Negra, estão sendo realizadas quatro edições da Terça Negra em novembro. Hoje, na terceira Terça Negra do mês, a programação começou de manhã e vai até meia noite.

“Apesar da miscigenação, ainda temos muito preconceito racial no Brasil. Quando a Lei Áurea foi assinada, os escravos se tornaram livres, mas foram jogados na sociedade sem acesso à moradia digna, emprego, educação e tudo mais. Até hoje vivemos os reflexos disso. Por isso ainda precisamos de ações e políticas públicas afirmativas para reparar essas violações históricas de direitos e assim alcançarmos a igualdade racial, de fato”, defendeu Jamaica.

Um dos destaques da abertura foi a oficina de penteados para cabelos crespo e cacheado, ministrada pelo cabeleireiro Félix Oliveira. Para ele, quanto mais volumoso e menos penteado, mais bonito é o cabelo. “De uns cinco anos pra cá, as mulheres têm alisado menos os cabelos, negando menos sua identidade. Vejo mais gente assumindo os cachos, tendo orgulho deles, do black power. Como profissional, ajudo a realçar ainda mais a beleza do cabelo crespo e do cacheado porque acredito que assumir a negritude faz parte da construção da identidade da mulher e do homem negro”, afirma o profissional que mora e trabalha na Bomba do Hemetério.

Nesta terça, o Pátio de São Pedro ainda recebe roda de diálogo sobre o papel do Hip Hop no fortalecimento da identidade da população negra, oficina de maquiagem para pele negra, apresentações culturais, “Olha! Recife” com a temática da consciência negra, apresentação do Maracatu Linda Flor, encenação do espetáculo “Tereza: uma luz chamada resistência”, exibição de filmes que abordam a questão racial no Memorial Chico Science e oficina Juventude Participa na Casa do Carnaval. Às 19h, começa a Terça Negra propriamente dita, com apresentação de capoeira e das bandas Tambor Falante, Lamento Negro e Lucas & Orquestra dos Prazeres.

JORNADA - Palestras, cursos, oficinas, seminários, exposições, emissão de documentos, orientação jurídica e cine-debates fazem parte da programação da Jornada de Direitos Humanos do Recife, que vai até o dia 10 de dezembro, quando se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos. Nesta data, há 70 anos, foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Todas as atividades da jornada têm como eixo orientador um dos 30 artigos da Declaração Universal, com o objetivo de aproximar o debate global das questões locais.

Além das discussões sobre igualdade racial, os debates abordarão as mais diversas temáticas relacionadas aos direitos humanos: os direitos da criança e do adolescente, das pessoas idosas, das mulheres, das pessoas com deficiência, da população LGBT; direito à educação, ao lazer e à saúde, entre outros. A estimativa da SDSJPDDH é de que a Jornada de Direitos Humano do Recife atinja um público de 20 mil pessoas.

O objetivo da jornada é comemorar os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promover a cidadania e a defesa dos direitos humanos; conscientizar a população, discutir e tentar efetivar os direitos à cidadania, à educação, saúde, lazer, cultura, esporte e meio ambiente saudável; valorizar a diversidade e a igualdade de oportunidades, além de realizar intervenções em espaços públicos para combater as diversas formas de preconceito e discriminação.

SEMINÁRIO DA ONU - Nestas quarta (21) e quinta (22), o ponto alto da programação da Jornada é o Seminário “Vidas negras: diálogos sobre ações governamentais de enfrentamento à violência contra as juventudes”, promovido pela ONU Brasil junto com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e a Prefeitura do Recife, na Universidade Católica de Pernambuco. O evento será no Auditório Dom Hélder, no bloco A, no térreo da universidade, a partir das 9h.

O objetivo é dar visibilidade à violência contra a juventude negra, já que, segundo a ONU, um negro com 15 a 19 anos tem hoje três vezes mais chance de ser assassinado que um brasileiro branco na mesma faixa etária. A ideia é reunir gestores públicos de diversos municípios (sobretudo os que têm situação mais crítica em relação aos indicadores de violência e vulnerabilidade de jovens negros), sociedade civil, técnicos e especialistas para trocar experiências sobre boas práticas com potencial de impacto na prevenção e redução da violência contra a juventude negra nas cidades brasileiras. Espera-se sensibilizar os tomadores de decisão locais a desenvolverem políticas de prevenção e enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial.

O seminário contará com apresentações de experiências exitosas de combate à violência no Brasil e na Colômbia, grupos de trabalho temáticos e debates. O encontroculminará na construção de um pacto com diretrizes gerais para o enfrentamento ou prevenção à violência letal contra a juventude negra. O seminário faz parte da campanha Vidas Negras, lançada pela ONU há um ano. Entre os oficiais das Nações Unidas, estarão presentes Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil, e Raquel Quintiliano, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

A programação completa do seminário está disponível no site da ONU

EXPOSIÇÃO - Uma exposição itinerante da PCR em homenagem aos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos vai circular pelas mais diversas áreas da cidade. São oito totens com todo o texto do documento, com destaque para alguns artigos. Vão ser distribuídos também livretos de bolso da declaração.

Dois técnicos sempre estarão acompanhando a exposição para explicar o contexto do surgimento da declaração, a sua importância, como a declaração inspirou a Constituição Federal de 1988 e o quanto foi o ponto chave para a reconstrução do mundo no período pós 2ª Guerra Mundial. "Queremos que as pessoas que passem pelas ruas do Recife tenham contato com o conteúdo da declaração, que fala do direito à vida, à liberdade, à igualdade, contra a tortura, contra toda forma de discriminação. O objetivo é fazer com que isso toque as pessoas e contribua para desconstruir a ideia estereotipada que se tem dos direitos humanos", explicou Ana Rita Suassuna, secretária de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife.

Entre os locais de grande circulação de pessoas pelos quais a exposição irá passar estão o Pátio de São Pedro, a Avenida Boa Viagem, o Aeroporto Internacional do Recife, Rua do Lazer, Avenida Rio Branco, Rua Nova, Praça da Várzea, Terminal Integrado de Passageiros (TIP) no Curado, Compaz Ariano Suassuna, no Cordeiro; Compaz Eduardo Campos, no Alto Santa Terezinha; Mercado Público de Afogados, Brasília Teimosa, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Parque da Jaqueira, Parque 13 de Maio etc.