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Uma tradição junina de mais de 70 anos se repetiu entre a noite de ontem e a madrugada deste sábado (23), no bairro de Areias: o Acorda Povo da Vila das Lavadeiras, que está sendo homenageado no São João do Recife 2018, juntamente com o cantor Geraldinho Lins.

A programação preparada pela Prefeitura do Recife para embalar uma das mais antigas liturgias juninas recifenses começou às 22h, com apresentações do grupo Bongar e trio pé de serra, de cima da Forrovioca.

Por volta das 4h da manhã, o cortejo partiu da casa de Dona Nenzinha de Xangô, de 77 anos, filha da criadora da festa, Dona Dida, e percorreu as principais ruas do bairro. Durante o percurso, em meio à explosão de muitos fogos, foram erguidas 17 bandeiras com a imagem de São João Batista e entoados cânticos e loas em homenagem ao santo e a Xangô, orixá patrono da festa.

A caminhada só terminou com o raiar do sol, em seu ponto de origem, quando foram distribuídos centenas de copos de mungunzá e executadas diversas músicas de exaltação ao evento.

Na fachada da casa de Dona Nenzinha, antes do cortejo começar, a secretária de Cultura do Recife, Leda Alves, descerrou uma placa em homenagem ao tradicional Acorda Povo. “Em primeiro lugar, quero exaltar a coragem e perseverança de Dona Nenzinha, de sua família e de todo o povo da Vila das Lavadeiras, que vêm mantendo essa tradição viva ao longo desses anos. Em segundo lugar, quero lembrar que a escolha dessa festa como uma das homenageadas deste Ciclo Junino da Prefeitura do Recife é o reconhecimento da resistência cultural desse povo”, ressaltou a secretária.

Após aguentar firme todo o percurso do acorda povo, Dona Nenzinha disse que o que a mantém de pé e à frente do Acorda Povo é sua fé no orixá xangô. “Fiquei muito feliz quando fiquei sabendo que a Prefeitura havia escolhido nosso Acorda Povo com um dos homenageados deste ano. Acho que é um reconhecimento importante à nossa luta para manter essa tradição por todos esses anos”, ressaltou a matriarca da festa, visivelmente emocionada.

A enfermeira Mariza Rodrigues, 57 anos, moradora de Afogados, fez questão de acompanhar o cortejo. “Morei na comunidade por 20 anos e sei a importância do evento. Todo ano estou aqui e fiquei muito feliz com a homenagem da PCR”, frisou Mariza. No ano que vem tem mais. A Vila das Lavadeiras acorda mais uma vez para celebrar São João e Xangô, desfilando sua fé e resiliência.