Profissionais de odontologia da Prefeitura do Recife são sensibilizados sobre doenças falciformes
Capacitação inclui palestras com representantes do Governo Federal e das secretariais municipal e estadual de Saúde
Em Pernambuco, uma em cada 1,4 mil crianças nascidas vivas tem anemia falciforme. Os portadores da doença, mais comum em afrodescendentes, exigem atenção especial ao longo da vida. Os cuidados devem ser observados, inclusive, no que se refere aos aspectos odontológicos. Por causa disso, a Prefeitura do Recife promoveu ao longo desta quinta-feira (23) o I Simpósio de Saúde Bucal na Anemia Falciforme. O evento pioneiro reuniu mais de 300 gestores e trabalhadores da rede municipal no auditório do Centro de Formação de Educadores Professor Paulo Freire, na Madalena.
A mobilização contou com a participação de representantes das secretarias Municipal e Estadual de Saúde, incluindo a Fundação Hemope, do Governo Federal e da Associação Pernambucana de Pessoas com Anemias Hereditárias (APPAH). “A doença falciforme é um problema de saúde pública que atinge um grande contingente de pessoas em nossa cidade. Por isso trouxemos a discussão para os nossos profissionais, para que eles possam identificar ou pelo menos estar sensíveis ao tema durante o atendimento a algum usuário que saiba ou não ter a enfermidade”, comentou a gerente municipal de Atenção à Saúde Bucal, Ana Beatriz Vasconcelos.
Sony Santos, gerente de Atenção à Saúde da População Negra do Recife, destacou o ineditismo do simpósio. “Ele representa a continuidade de uma política municipal que já existe há mais de dez anos. Estamos vivendo um momento histórico, até mesmo emocionante, em que conseguimos mobilizar tantos profissionais para discutir e trocar experiências e informações sobre a doença falciforme”, destacou.
Apesar de o primeiro diagnóstico do problema genético ter sido feito há mais de cem anos, ele ainda é desconhecido para muita gente. Foi o que destacou o cirurgião-dentista Adelmo Amorim, com 30 anos de carreira e atuando na rede municipal desde 1998. “A iniciativa da Prefeitura foi muito interessante. É importante os profissionais saberem os cuidados necessários para atender a esses pacientes. Muitos odontólogos podem ter tido usuários nessas condições, que apresentaram alguma intercorrência e não saberem o motivo dela. Ter esse olhar diferenciado é fundamental”, enfatizou.
Referência nacional em assistência à população negra, a gerente estadual da pasta, Miranete Arruda, falou também em nome do Ministério da Saúde. Ela destacou a construção da política nacional e da recifense, uma das primeiras a serem estruturadas em todo o País e na qual esteve à frente durante a sua implementação, no início dos anos 2000. A programação inclui ainda palestras sobre a humanização e o acolhimento das pessoas com doença falciforme; a epidemiologia, a fisiopatologia e as estratégias de tratamento da enfermidade; o autocuidado em saúde bucal para pessoas nessa condição; e o tratamento odontológico em portadores da mutação genética.
Saiba mais:
A doença falciforme tem causa genética e hereditária. Teve origem na África, chegando ao País provalmente por intermédio do tráfico de escravos. No entanto, já é encontrada em diversas partes do planeta. A mutação da hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio pelo sistema circulatório, provoca alteração nos glóbulos vermelhos. Pode ocasionar dor nos ossos, músculos e articulações, palidez, icterícia, úlcera nas pernas e maior tendência a infecções.
Mais comum entre indivíduos afrodescendentes, seu diagnóstico costuma ser feito a partir do Teste do Pezinho, realizado nos primeiros dias de vida da criança. Outra opção é a eletroforese de hemoglobina, outro exame de sangue também disponível no SUS.
Pessoas que recebem dos pais o gene de uma hemoglobina anormal e da estrutura padrão não desenvolvem a doença. Nesse caso, apresentam traço falciforme. A prevalência é de um caso para cada 23 crianças nascidas vivas.