Gênero, Raça e Justiça são temas de debate promovido pela Secretaria da Mulher
O evento contou com a presença da secretária da Mulher, uma pesquisadora, um filósofo e uma juíza, e serviu para que as participantes tirassem dúvidas
A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria da Mulher, promoveu, nesta terça-feira (24), uma conversa sobre gênero, raça e justiça. O evento contou com a participação da secretária da mulher do Recife, Elizabete Godinho, com a pesquisadora Cristina Buarque, o mestre em Filosofia e Interculturalidade, Lepê Correira, e a juíza da 2ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher do Recife, Marylúzia Feitosa. A atividade ocorreu no Memorial de Justiça do Tribunal de Justiça de Pernambuco, no Bairro do Recife.
Em sua fala, Elizabete Godinho ressaltou a importância de abrir espaços para a discussão sobre políticas para as mulheres. "Temos que incorporar a perspectiva de gênero no nosso dia a dia, seja na vida cotidiana ou nos organismos públicos que representamos. As nossas perspectivas, possibilidades, desafios e obstáculos. E a Secretaria da Mulher está disposta a isto", disse. Em seguida, a pesquisadora Cristina Buarque fez um panorama histórico do Brasil e a formação do Poder Judiciário ao longo dos anos. "Para as mulheres, negros e indígenas terem acesso de verdade à Justiça é preciso primeiro remontar essa Justiça. Ela nos dá muito trabalho pela constituição original dela. Quantos anos se passaram até que uma mulher se tornasse juíza?", pontuou.
Cristina também comentou os avanços das políticas para as mulheres dentro do Judiciário. "O que eu quero mostrar é essa difícil luta das mulheres para chegar ao Judiciário e isto começa com a instalação das Varas de Violência contra a Mulher. No começo, haviam 20 mil processos. Isso significa que haviam 20 mil mulheres agredidas que não tinham estruturas para serem atendidas e nem medidas de urgência que exigem a Lei Maria da Penha. Hoje, a realidade é outra".
Já Lepê Correia falou sobre as peculiaridades das mulheres negras. Segundo o pesquisador, a mulher, no Brasil, foi como um pé-de-cana na sociedade: cheia de nós que precisam ser desatados. Para ele, a escravidão e o patriarcado foram e continuam sendo muito piores para as mulheres, uma vez que as tratam como coisa. "A negra sempre foi um coringa: um objeto de compra e venda, objeto sexual, ama de leite, saco de pancada das sinhazinhas, além de escrava", disse. Lepê trouxe um panorama histórico do preconceito às mulheres negras na sociedade até os dias atuais, com a contínua objetificação de seu corpo.
Para finalizar a conversa, a juíza Marylúsia reforçou a necessidade de Varas Especializadas e seu compromisso com a luta pelo fim do feminicídio. A magistrada ressaltou a importância da Lei Maria da Penha e o esforço que as Varas fazem para que as medidas protetivas sejam expedidas realmente em caráter de urgência. "Hoje, quando uma solicitação dessas chega na Vara, vai direto para o gabinete para ser expedida. Eu estudei muito a Lei Maria da Penha quando assumi a Vara, em 2012. Eu passei a minha vida ao largo do feminismo. Não senti o machismo. Na verdade, eu não sentia porque tudo aquilo me soava normal. Eu vivi, na verdade, um machismo profundo e não percebi porque eu fui criada para isto. Só em 2012, quando assumi a Vara e comecei a estudar a Lei, percebi a necessidade da luta por direitos iguais aos homens", finalizou.
Logo em seguida, houve um debate com as participantes que puderam tirar suas dúvidas sobre os temas debatidos. A atividade fez parte da comemoração do Dia Internacional da Mulher.