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A história de um aluno da rede municipal de ensino do Recife que tem paralisia cerebral e se comunica através do aplicativo Livox será exibida em um evento mundial do Google, em São Francisco, na Califórnia, na tarde desta quinta-feira (28). O pernambucano que desenvolveu o software, Carlos Pereira, foi convidado para o Google I/O, que é uma conferência anual do Google voltada ao desenvolvimento de aplicações para os seus sistemas operacionais, principalmente o Android. No evento, será exibido um vídeo sobre a história de Carlos e também de Jhonatan Lins, 17 anos, aluno do 5º ano da Escola Municipal do Engenho do Meio.

O aplicativo, disponível para Android, permite que pessoas com deficiências motoras, cognitivas e visuais consigam se comunicar com maior facilidade através de tablets. O software tem catálogos de palavras e imagens que são reproduzidas em áudio quando são selecionadas ou digitadas. Os usuários podem relatar emoções, indicar que querem comer, selecionar desenhos, filmes, jogos e músicas. Premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a ferramenta também facilita a alfabetização e o estudo de conceitos de disciplinas como a matemática. O Livox usa algoritmos inteligentes que se ajustam à deficiência de quem o utiliza e corrige até mesmo os toques imprecisos das pessoas com deficiências.

O software surgiu da necessidade de Carlos se comunicar melhor com a filha, Clara Costa Pereira, 7 anos, que também tem paralisia cerebral. O aplicativo é usado na Escola Engenho do Meio de forma piloto. A Secretaria de Educação do Recife adquiriu cinco mil licenças do Livox para usar com alunos da Educação Especial e da Educação Infantil em 2016. "Percebemos que a ferramenta também pode auxiliar a alfabetização dos estudantes que não têm deficiência, pois as imagens usadas no software se parecem muito com os cartões gráficos que os professores costumam utilizar em sala de aula para que os alunos associem as figuras às palavras, por exemplo", explica Francisco Luiz dos Santos, secretário-executivo de Tecnologia na Educação da Secretaria de Educação do Recife.

Durante a filmagem para o vídeo que será exibido no evento do Google, Jhonatan conheceu Carlos na unidade de ensino, no dia 12 de maio. Na ocasião, o jovem pediu pra dar um abraço em Carlos e lhe agradeceu pelo aplicativo. Através de perguntas cujas respostas eram sim ou não disponibilizadas no Livox, Jhonatan contou que ficou muito feliz depois que começou a usar o software e disse que outras crianças que não conseguem se comunicar também devem usá-lo. O estudante não fala, mas entende o que escuta e também compreende a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ele está conseguindo se comunicar melhor, tanto na escola quanto em casa, depois que começou a usar a ferramenta instalada no tablet concedido pela Prefeitura do Recife, há um ano. As pessoas fazem a pergunta e Jhonatan responde com o aplicativo, que exibe figuras e algumas palavras básicas. Ele também está aprendendo a escrever.

A mãe do aluno, Ginny Giuliana, 33 anos, disse que o software melhorou o convívio do filho com as pessoas, pois antes ele só se comunicava com a família, através de sinais criados no contexto familiar. "Hoje ele consegue se expressar e dizer o que quer para mais pessoas. Com isso, o círculo de amizade dele aumentou. Jhonatan leva o Livox para todo lugar que vai", contou Ginny, que trabalha como coordenadora de uma autoescola. Ela também aproveitou a oportunidade para agradecer a Carlos pelo software. "Você fez o aplicativo para sua família se comunicar com Clarinha e acho que não imaginava o quanto ia ajudar outras famílias. É muito bom eu poder sair pra trabalhar e saber que meu filho está bem, que ele consegue se comunicar e, se precisar, vai saber pedir socorro. É como se ele vivesse o tempo todo em uma prisão e você veio com a chave para abrir as grades e libertá-lo", disse a mãe.

Carlos, que é analista de sistemas e empresário de uma startup pernambucana, retribuiu o carinho de Jhonatan e da mãe. "Gostei muito de conhecer Jhonatan, estou sem palavras. É muito bom ver que o aplicativo realmente é útil pra ele. Espero que o Livox dê mais qualidade de vida às pessoas, mas a grande recompensa eu já tive dentro de casa, que é saber o que se passa na cabeça da minha filha. Isso não tem preço e nem prêmio que pague", declarou Carlos, que além de criar o aplicativo por causa de Clarinha, conseguiu parcerias para abrir uma clínica de fisioterapia e fonoaudiologia que atende pessoas com vários tipos de deficiência no Recife. A menina foi a primeira brasileira a fazer tratamento com células-tronco, na China.

De acordo com o empreendedor pernambucano, o Google vai destacar o aplicativo no evento com o objetivo de promover iniciativas como o Livox. "A ideia é mostrar um bom exemplo de como as tecnologias do Google estão sendo usadas para melhorar a vida das pessoas. É um momento muito importante", explica o analista de sistemas.

LIVOX - Atualmente, cerca de dez mil pessoas utilizam a ferramenta, que está disponível em 25 idiomas. O software foi premiado pela ONU como o melhor aplicativo de inclusão social do mundo. Para a premiação, foram avaliados cerca de 20 mil aplicativos, de 178 países. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também elegeu a plataforma como a inovação tecnológica com maior impacto em 2014. Com o destaque internacional do software, a equipe que desenvolveu o Livox firmou uma parceria com a Liga Árabe, que já traduziu a ferramenta para o idioma e deve levá-la para todos os países da organização neste ano.

Criado em 2011, o aplicativo funciona apenas em tablets Android, mas, em breve, deve se tornar compatível com Windows e iOS (iPad). O Livox é um produto da empresa do segmento de Negócios Sociais Agora Eu Consigo Tecnologias de Inclusão Social Ltda., voltada ao desenvolvimento de produtos, soluções, serviços e treinamentos que viabilizem a inclusão social e a acessibilidade de pessoas com deficiência no convívio familiar e social.