O CAIS DA AURORA

 

O acentuado crescimento populacional do Recife entre o final do século 18 e início do 19, demandou a necessidade de se ampliar o chão da cidade através de inúmeros aterros. A Ilha de Antônio Vaz, onde estão os bairros de São José e Santo Antônio, já se encontrava bastante povoada e era preciso seguir em direção ao continente, para o atual bairro da Boa Vista, já parcamente povoada. Nas primeiras décadas do século 19, o local que hoje conhecemos por Rua da Aurora era basicamente um pântano, no qual seria impossível construir uma casa sequer. A região, cujo proprietário era Casimiro Antônio Medeiros, foi gradativamente sendo aterrada e as possibilidades para a construção de casas ampliadas.

O primeiro trecho construído foi o que sai das proximidades Rua Velha até a atual Av. Conde da Boa Vista. Até então conhecida por “Casimiro”, em alusão ao proprietário das terras, possuía uso misto entre residências e outros serviços como uma conhecida fundição de metais e a Igreja Anglicana, construída em 1838, que ficava no local onde hoje se encontra o Edifício Duarte Coelho (Cinema São Luiz). Na década de 1840, o segundo trecho das obras de aterro e construção foram continuadas e deram origem à Rua da Aurora nos moldes como conhecemos hoje, seguido de inúmeras construções importantes, como a Assembleia Legislativa (1875) e o Ginásio Pernambucano (1866). Estima-se que tenha sido nesse período a alcunha de “Aurora”, pelo fato de ser nascente e receber os primeiros raios da manhã, em contraposição à Rua do Sol, que recebe o poente.

O fato é que possui inúmeros edifícios que contam um pouco da história do Recife. Como a casa nº 455, onde residiu o Conde da Boa Vista, Francisco do Rego Barros, Governador de Pernambuco entre os anos de 1837-1842. No palacete ao lado, nº 425, funcionou, entre 1920 e 1970, a Prefeitura da Cidade do Recife, até a construção da atual sede. Além do Clube Almirante Barroso; a garagem de remo do Clube Náutico Capibaribe; o Instituto Tavares Buril; o Banco Central; a Secretaria de Planejamento e Gestão de Pernambuco; a sede da TV Globo Nordeste, entre outros. Considerado um dos logradouros mais importantes do Recife, a Rua da Aurora, tem sido ao longo desses anos decantada, celebrada e enaltecida por numerosos poetas, escritores e artistas pernambucanos, dentre eles Joaquim Cardozo, Carlos Pena Filho, Manuel Bandeira, Carlos Moreira, Mauro Mota, Ariano Suassuna, Evaldo Cabral de Mello, Eliezer Xavier, Wilton de Souza, Ezilda Goiana e Marcos Cordeiro.

A história da Rua da Aurora é a história de muitos. De gente que aterrou o chão, que pôs tijolo por tijolo em cada um dos sobrados, de gente que morou e habitou a cidade em outros tempos. Este marco agora entregue, que simboliza o encontro dos rios Capibaribe e Beberibe formando o oceano Atlântico, representa mais um passo decisivo para o novo Cais da Aurora. É resultado presente que aponta para o futuro, na rua que se renova a cada nascer do sol. 

Professor Fernando Guerra de Souza

Agosto de 2021.