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Mulher | 07.07.14 - 09h16

Baque Mulher e Bloco Malagasy encontram-se no Marco Zero e comunidade do Bode, no Pina

O intercâmbio dos grupos do Recife e Madagascar reafirmou a importância de empoderar meninas e mulheres através da arte. (Foto: Inaldo Lins/PCR)

“Para nós, é muito importante encontrar com outros grupos que também são compostos só por mulheres. Em todos os lugares que fomos, nunca tínhamos visto essa formação. Elas se parecem muito conosco. Com o encontro, conhecemos outras culturas, melhoramos o nosso ritmo e trocamos experiências”, afirmou a diretora do Bloco Malagasy, de Madagascar, Toky Florette, de 25 anos. Toky e mais nove meninas encontraram-se com o grupo de percussão feminino Baque Mulher neste domingo (6), no Marco Zero, e no sábado (5), na sede do Maracatu Nação Porto Rico, na comunidade do Bode, no bairro do Pina. O intercâmbio de saberes e experiências foi promovido pela Secretaria da Mulher do Recife.

O Malagasy é composto apenas por jovens mulheres provenientes dos bairros mais desfavorecidos do sul de Madagascar. O grupo, influenciado pelo estilo brasileiro “samba reggae”, desenvolveu seu próprio estilo, fundindo ritmos brasileiros com os tradicionais do sul de Madagascar, como o tsapike ou kilalake. Segundo o diretor da ONG Bel Avenir, José Luis Guirao, são desenvolvidos trabalhos sociais com mais de 30 mil jovens malagaxes. Através da arte, a ONG realiza projetos sociais com as meninas que estão em situação de vulnerabilidade. A turnê do Malagasy teve início no dia 4 de julho e abrangerá mais três cidades do país.

“O Bloco Malagasy é composto por 70 meninas que treinam diariamente, das 19h às 21h, no Centro de Música e Arte da ONG Bel Avenir. Apenas 10, com idades de 16 a 25 anos, vieram ao Brasil. Com o projeto que realizamos, lá no Centro, evitamos que estas meninas entrem na prostituição e ainda evitamos a violência contra a mulher”, comentou José. Além de tocarem seus tambores, as malgaxas conheceram as atividades que são realizadas na comunidade do Bode e arredores, por Joana D´arc, mestra do Baque Mulher, que visam o combate à exploração sexual, a gravidez precoce e o tráfico de drogas.

Para Joana, o evento foi fundamental para alertar as meninas que há formas de combater o preconceito e a violência de gênero em que são submetidas diariamente. “Ficou passando um filme na minha cabeça. Foi emocionante a noite de hoje. Reforçou a minha ideia de que a música transforma. Foi muito interessante ver que eles desenvolvem um projeto semelhante ao nosso do outro lado do continente e que os objetivos são os mesmos: empoderar essas meninas”, disse. Desde 2008, a mestra realiza oficinas de confecção de instrumentos, percussão e dança para meninas de todas as idades.

A batuqueira Carol, de 19 anos, é integrante desde do início do Baque Mulher e mora no bairro da Imbiribeira. “Quando ela me deu a notícia, fiquei pensando no que ia acontecer. O maracatu é tudo na minha vida e acho que na vida delas também. Foi uma troca de experiências muito intensa. Foi muito axé!”, completou. No intercâmbio, esteve presente a gerente de relações intersetorias da Secretaria da Mulher, Elizabeth Severien. A gestora refirmou a importância de empoderar meninas e mulheres. “Esse encontro foi fundamental para os dois grupos. Reforça a importância de cuidarmos desde cedo das meninas para evitar a violência e as injustiças que estão relacionadas ao gênero. Reforça os trabalhos que são realizados tanto aqui como em Madagascar”, completou.

MARCO ZERO - Baque Mulher e Bloco Malagasy apresentaram-se, neste domingo (6), no Marco Zero, no bairro do Recife. O público pode acompanhar a interação das meninas africanas com as recifenses em uma performance única. Outros grupos de maracatu como o Almirante do Forte a Nação do Maracatu Aurora Africana uniram-se as batuqueiras e desfilaram pelas ruas do Recife Antigo.