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Cultura | 12.06.12 - 13h39

Via Mangue: o toque feminino na maior obra viária dos últimos 30 anos no Recife

Elas cuidam da limpeza, do cafezinho, da segurança, de tarefas administrativas, dão ordens como engenheiras e atuam também nas áreas de solda, pintura e carpintaria

O que há alguns anos era visto como incomum ou incompatível está se tornando uma onda crescente. As mulheres estão ocupando cada vez mais espaço no setor da construção civil. Exercendo funções que no passado eram consideradas estritamente masculinas, elas estão mudando a cara dos canteiros de obra de todo o Brasil. Na construção da Via Mangue, obra da matriz orçamentária da Copa do Mundo da FIFA 2014, que está sendo executada pela Prefeitura do Recife, em parceria com o Governo Federal, esta “nova ordem” também está presente.

Basta dar uma circulada nos trechos da intervenção para constatar que elas estão em quase todas as áreas. Cuidam da limpeza, do cafezinho, do administrativo, dão ordens como engenheiras, atuam também nas áreas de solda, pintura, carpintaria e cuidam até da segurança. A apropriadora, Maria Aparecida, está na Via Mangue há 10 meses e tem como tarefa acompanhar e fazer levantamento de todo o material utilizado na obra, saber onde estão sendo utilizados e se estão danificados. Ela fala com orgulho do trabalho. “Eu me sinto muito privilegiada porque nesta área onde estou atuando é muito difícil encontrar mulheres, é mais comum que seja executada por homens e por isso eu gosto muito do trabalho”.

A baiana, Cidra Sandra, está há 8 meses na obra e não tem medo de trabalho pesado. “Aqui eu trabalho como soldadora e faço tudo inerente à função. Soldo trilhos, vigas, treliças e também uso o maçarico”. Segundo ela, o fato de ser mulher ajuda no dia a dia. “Os meninos me respeitam muito como profissional, eles dizem que a mulher é mais cautelosa no que faz, tem mais tranqüilidade e isso é muito importante na função de solda”, complementa.

Já a pintora/letrista, Anayse Silva, é a responsável pelo trabalho cuidadoso de confecção das placas e cartazes de informação espalhados pela obra representam. “Nesta função eu sou a única mulher e considero a minha atividade um desafio. Apesar de estar em um ambiente basicamente masculino eu me sinto muito bem, pois eles respeitam o meu trabalho, me admiram e me dão a maior força”, afirma.


O presidente do Sinduscon, Gustavo de Miranda, acredita que o crescimento do número de mulheres trabalhando em canteiros seja um reflexo de como vem se desenvolvendo a economia do país. “A construção civil foi um dos setores que mais recebeu investimentos e apresentou crescimento, de acordo com dados do PIB, e com isso houve um grande incentivo à formação de novos profissionais”. Segundo Gustavo, é natural que as mulheres, muitas delas chefes de família, hoje ocupem parte desses empregos. “Podemos afirmar que a presença de mulheres na construção não é uma coisa inédita, mas já chama a atenção e merece ser estimulada", conclui.

Coordenando todo o trabalho de construção da Via Mangue está outra mulher, Débora Mendes, presidente da Empresa de Urbanização do Recife (URB). Débora destaca a participação delas no mercado de trabalho. “A mulher vem cada vez mais conquistando seu espaço e atuando em funções que antes eram exclusivas dos homens, mostrando que é capaz. Eu me sinto bastante realizada por estar à frente de uma obra tão importante para a nossa Cidade”. Ela cita o fato de termos uma mulher na presidência como mais uma prova de que “as mulheres são capazes de fazer isso e muito mais”, destaca.

Obra - A Via Mangue será composta por faixas de rolamento para veículos, calçadas para pedestres e ciclovia, se constituindo na primeira via expressa da cidade, com velocidade média de 60km/h. No sentido Centro/Boa Viagem, a via terá 4,75km. Já no sentido Boa Viagem/ Centro, a extensão é de 4,37km. A via expressa não possuirá semáforos ou cruzamentos de tráfego e contemplará ainda a acessibilidade para deficientes físicos e idosos.

A Intervenção representa também moradia digna para quase mil famílias que moravam em palafitas no trajeto da obra. Três habitacionais já foram concluídos e entregues aos moradores. Com a implantação da Via Mangue, cria-se um cinturão de proteção do manguezal do Rio Pina, melhora-se o tráfego nos bairros de Boa Viagem e do Pina, e abre-se a possibilidade de implantação de um corredor exclusivo de ônibus na Avenida Domingos Ferreira, também em Boa Viagem, viabilizando o Corredor Norte-Sul. Uma área de 221 hectares receberá ainda ações de saneamento integrado com a implantação de rede de saneamento, estações elevatórias e emissários de esgoto.

Com a maior parte da hotelaria localizada na Zona Sul, a Via Mangue beneficiará o desenvolvimento turístico, ao facilitar o acesso a essa região. A Via Mangue tem importância metropolitana, beneficiando também quem mora ou se dirige a Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Suape.