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Saúde | 12.09.17 - 17h57

Profissionais de saúde participam de formação sobre genocídio da juventude negra

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O objetivo da Prefeitura do Recife é articular políticas públicas intersetoriais para reduzir as vulnerabilidades sociais dos jovens negros em decorrência do racismo, colaborando para a redução dos índices de violência. (Foto: Inaldo Lins/PCR)

 

Cerca de 40 profissionais da Secretaria de Saúde do Recife participaram, nessa segunda-feira (11), de uma formação sobre o genocídio da juventude negra, na Upinha Emocy Krause, localizada na comunidade Santa Luzia, no bairro da Torre. A atividade foi promovida por um grupo de trabalho formado por dez secretarias da Prefeitura do Recife para elaborar o Plano de Promoção dos Direitos Humanos e do Enfrentamento ao Genocídio da Juventude Negra do Recife, com o objetivo de desenvolver ações integradas de prevenção e enfrentamento ao aumento da violência contra jovens negros na capital pernambucana.

Esta é a quinta formação promovida pelo Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Genocídio da Juventude Negra, que já promoveu palestras para mais de 100 profissionais das áreas de saúde e assistência social da Prefeitura do Recife; tudo alinhado com o Programa de Combate ao Racismo Institucional da Prefeitura. Até o fim do mês, também será feita uma formação sobre o assunto para os coordenadores pedagógicos da rede municipal de ensino. As ações do GT são coordenadas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos.

De acordo com dados da Secretaria de Defesa Social (SDS), de junho de 2016 a junho deste ano, foram mortos 522 jovens (15 a 29 anos) na cidade. Desse total, 514 são negros e pardos (98%). Segundo denúncias recebidas pelo Ministério Público de Pernambuco, desde o ano passado, mais de 30 jovens, entre 15 e 29 anos, foram assassinados na Região Político-Administrativa 4 (RPA 4), em especial no trecho compreendido entre as comunidades Novo Detran, na Iputinga, e Vila Santa Luzia e Abençoada por Deus, no bairro da Torre. Por causa disso, a expectativa é implementar o plano piloto nessas três áreas.

Para conscientizar e alertar os profissionais da saúde sobre a importância de se desenvolver ações integradas para reduzir as vulnerabilidades sociais dos jovens negros em decorrência do racismo, colaborando para a redução dos índices de violência no entorno da comunidade Santa Luzia, onde fica a Upinha Emocy Krause, a formação dessa segunda incluiu debates, exibição de vídeo e formação de grupos de estudo sobre a violência contra os jovens negros.

De acordo com Leo Machado, responsável pela condução dos trabalhos dessa segunda, o genocídio dos jovens negros é um fato que precisa ser combatido por todos. “A melhor forma de fortalecer essa luta é conscientizar os profissionais que atuam junto a esses jovens. Para isso, estamos percorrendo diversas comunidades com esse curso. A receptividade tem sido boa, mas ainda há certa resistência de se falar abertamente sobre o tema. Apesar dessa limitação, acho que esses encontros trazem elementos e informações novas que podem contribuir para ações futuras mais incisivas de combate ao racismo”, disse o formador.

Taciana Rita Veloso, chefe de Setor da Secretaria Executiva de Juventude, ressaltou que a formação dessa segunda-feira foi a quinta promovida pelo GT de Enfrentamento ao Genocídio da Juventude Negra. “É preciso chamar cada vez mais a atenção sobre a gravidade dessa questão. Precisamos conscientizar principalmente os profissionais que atendem os jovens negros na saúde, na educação e na assistência social”, frisou.

Enfermeira da Upinha Emocy Krause, Tânia Avelar gostou muito do que aprendeu durante a formação. “Eventos como esse acabam contribuindo para despertar em nós o sentimento de que é necessário atuar como agente multiplicador na proteção da vida dos jovens negros das nossas comunidades”. Niedja Assunção, agente comunitária de Saúde da Upinha, tem opinião semelhante. “Eu me considero negra, minha mãe é negra e já fui vítima de racismo. O preconceito existe e está dentro de cada um de nós. Precisamos assumir essa nossa fraqueza e nos engajar na luta em defesa das nossas crianças e jovens”, defendeu.

GENOCÍDIO - A palavra genocídio significa destruição total ou parcial de um grupo étnico, de uma raça ou religião através de métodos cruéis ou eliminação de povos com utilização de, entre outras coisas, condições subumanas de vida. O Grupo de Trabalho da Prefeitura do Recife escolheu usar esse termo ao invés de extermínio como forma de reconhecimento da influência do fator racial nos casos de violência contra os jovens negros.