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Cultura | 13.08.14 - 09h14

Cerca de 500 jovens, adultos e idosos assistiram à aula inaugural do Programa Lição de Vida

O grupo ganhou kits com o material que será usado nos cursos de alfabetização e recebeu homenagens pelo Dia do Estudante. (Foto: Inaldo Lins/PCR)

Cerca de 500 jovens, adultos e idosos assistiram à aula inaugural do curso de alfabetização do Programa Lição de Vida/Brasil Alfabetizado, na noite dessa segunda-feira (11), no Centro de Convenções, em Olinda. A Secretaria de Educação do Recife fez uma homenagem ao grupo pelo Dia do Estudante e distribuiu o kit com o material que eles vão usar nas aulas, que começam a acontecer nas escolas municipais e em outros espaços públicos a partir da próxima segunda-feira (18). Os mais de 2.600 alunos inscritos serão divididos em cerca de 150 turmas, que terão aulas com 142 alfabetizadores voluntários durante oito meses. Os cursos serão supervisionados por 30 coordenadores. Todos passaram por formações na última semana.

Ex-aluna do Programa Lição de Vida, Josefa Alice Barreto, 65 anos, fez questão de dar seu depoimento sobre a mudança de vida que a alfabetização lhe proporcionou. Ela terminou o curso do Lição de Vida em 2007, concluiu os estudos nas turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e este ano já está terminando o curso de Magistério. “Eu achava que não ia mais conseguir estudar, já tinha perdido a esperança. Quando decidi ir à escola, muita gente dizia que eu não tinha mais idade para isso, mas mesmo assim fui atrás do meu sonho porque acho que nunca é tarde. Aprendi muita coisa que eu nem sonhava saber. Passei a ter uma nova vida, praticamente nasci de novo. Hoje estou aqui para incentivar pessoas que estão com medo de começar os estudos. E em breve quero ensinar para jovens e adultos. Tive tanta dificuldade para aprender que agora quero passar o que aprendi de bom para os outros”, planeja Josefa.

Uma das novas alunas presentes no Centro de Convenções foi a dona de casa Fernanda dos Santos Costa, 34, que espera conseguir um emprego depois que aprender a ler e escrever. “Quando eu era mais nova só queria saber de namorar, não queria estudar. Hoje tenho vergonha porque meus filhos de 11 e 16 anos já sabem ler e eu não. Até para pegar ônibus tenho que perguntar aos outros porque não consigo ler o que está escrito”, contou Fernanda, ao mostrar a carteira de identidade sem assinatura, apenas com as digitais e com o carimbo “Não Alfabetizada”. “Quando acabar o curso vou logo tirar um RG novo, para poder assinar meu nome”.

A alfabetizadora voluntária Marília Ribeiro, 30 anos, bateu de porta em porta na Bomba do Hemetério para mobilizar pessoas interessadas em estudar. Ela conseguiu formar duas turmas e ainda incentivou a participação de quatro alunos especiais. “Um dos que mais me chamou a atenção foi Douglas da Silva, 18, que tem hidrocefalia. Ele se animou muito quando o chamamos para estudar e até arrastamos a mãe dele junto, pois ela também não sabia ler”, disse Marília, que é professora da Educação Infantil da Rede Municipal e está fazendo pós-graduação em Educação Especial. Esta será a primeira turma dela de EJA.

O secretário de Educação do Recife, Jorge Vieira, parabenizou os alfabetizadores voluntários e os coordenadores, por se engajarem nessa luta, e também felicitou os novos estudantes. “É com muita alegria que vejo começar mais uma turma do Lição de Vida. Vocês já são vitoriosos por dedicarem um tempo da vida de vocês para aprenderem a ler e escrever. A alfabetização é um elemento muito importante para o pleno exercício da cidadania. Se esforcem e não desistam. Quero ver vocês na conclusão do curso”, afirmou o secretário.

De acordo com a gestora local do Programa Lição de Vida/ Brasil Alfabetizado, Leila Loureiro, esta foi a primeira vez que foi realizada uma aula inaugural para apresentar o programa aos estudantes, com o objetivo de diminuir a evasão escolar. “O curso vai muito além das duas horas diárias de aula. Em abril, quando eles concluírem o curso, já vamos encaminhá-los para continuidade dos estudos nas turmas de Educação de Jovens, Adultos e Idosos”, afirmou Leila, que é professora de EJA desde os 15 anos de idade e acompanhou a criação do Programa Lição de Vida, em 2003.

Já a gerente de Ensino Fundamental da Secretaria de Educação, Adilza Gomes, citou o educador Paulo Freire para motivar o grupo na retomada dos estudos. “Sei que muitos de vocês passaram muita dificuldade na vida e tiveram que abrir mão de estudar para cuidar da família ou para se dedicar ao trabalho. Agora vocês têm a oportunidade de recuperar o tempo perdido. Persigam o sonho de estudar e de aprender. Como diz Paulo Freire, aprender a ler é reaprender a ver o mundo”, incentivou a gestora.

O Programa Lição de Vida é uma parceria da Prefeitura do Recife com o Programa Brasil Alfabetizado, do Governo Federal, e tem o objetivo de incentivar a retomada dos estudos, sendo o passo inicial para o processo de Educação de Jovens e Adultos. Um dos objetivos do programa é reduzir o número de analfabetismo na capital pernambucana. De acordo com o último Censo do IBGE, realizado em 2010, Recife tem cerca de 100 mil analfabetos.