Miguel Arraes de Alencar (1916 – 2005)

 Fofo: divulgação

Miguel Arraes de Alencar (1916 – 2005) foi um dos maiores líderes políticos da história do Brasil, secretário de estado, deputado estadual, deputado federal e governador do estado de Pernambuco em três ocasiões. Arraes foi também líder partidário de destaque, tendo presidido o Partido Socialista Brasileiro entre 1999 e 2005.

Nascido em15 de dezembro de 1916, em Araripe, Ceará, Miguel Arraes era filho de José Almino Alencar e Silva e Maria Benigna Arraes de Alencar. Entre os primeiros anos de escola e a conclusão do secundário no Colégio Diocesano, na vizinha cidade do Crato, em 1932, foi testemunha fortemente impactada da grande seca que flagelou milhões de pessoas. Hordas de famintos pediam comida na porta do adolescente Arraes e chegaram a ficar confinadas em campos de concentração na entrada de Fortaleza.

Em 1933 frequenta o curso de Direito na Faculdade Nacional no Rio de Janeiro, hóspede de um tio. Em seguida mudou-se para a capital pernambucana e matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, onde se forma em 1937.

Aprovado num concurso público para o hoje extinto IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool), foi promovido a assistente do diretor de fiscalização em 1938, cargo no qual permaneceu até 1941, quando passou a ser chefe de Secretaria.              

Em 1943, ascendeu à delegado regional.

Foi no IAA que Arraes conheceu o jornalista Barbosa Lima Sobrinho, então presidente daquela instituição, que o levou para a vida pública. Em 1947, já governador de Pernambuco, Barbosa Lima Sobrinho, convida Arraes para ocupar o cargo de secretário estadual da Fazenda.

Em 1950, disputou sua primeira eleição para deputado estadual e ficou na suplência, vindo depois a ocupar a cadeira.

Em 1954 disputa, mais uma vez, vaga no parlamento estadual e é eleito. Foi líder da oposição ao governo Cordeiro de Farias.

No governo de Cid Sampaio, em 1959, voltou à Secretaria da Fazenda.

Em 1960 elegeu-se prefeito do Recife, apoiado pela Frente Popular. Em sua passagem pela Prefeitura investe na cultura e na educação em massa criando o Movimento de Cultura Popular - MCP que mobiliza artistas e setores médios da sociedade numa grande cruzada pela educação e melhoria dos serviços públicos básicos. Em apenas um ano de trabalho inaugura escolas oferecendo vagas para 10 mil crianças numa cidade onde o déficit de vagas chegava a 100 mil.

Em 1961, um ano antes de se tornar governador pela primeira vez, Miguel Arraes ficou viúvo de Célia de Souza Leão, sua primeira mulher, com quem teve oito filhos.

Em 1962, depois de uma administração aprovada pela população da capital, Miguel Arraes foi eleito pela primeira vez para governar Pernambuco.

No mesmo ano, casou-se com Maria Madalena Fiúza, com quem teve mais dois filhos.

No seu governo (que não chegou a concluir), Miguel Arraes implantou programas de destaque na área de educação e no setor rural. O Acordo do Campo, assinado em seu gabinete, teve como princípio a implantação de relações trabalhistas mais justas dos canavieiros com os donos de usinas.

Em 1963, foi lançado pré-candidato à presidência da República por lideranças de vários estados do Brasil. No contexto de radicalização direita x esquerda, potencializado pela Guerra Fria, propunha pacificação nacional e um entendimento em torno de programa nacionalista e de políticas de correção da desigualdades sociais e regionais.

No dia 1º de abril de 1964, Arraes foi deposto pelo Golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil. Depois de ficar preso em quartéis do Recife, é levado para a Ilha de Fernando de Noronha, de onde retorna em março de 1965.

Seguiu em seguida para o Rio de Janeiro onde pediu asilo na Embaixada da Argélia. Ao lado da família, passou 14 anos exilado na capital argelina.

Durante o exílio, foi condenado à revelia, no dia 2 de março de 1967, pelo Conselho Pernambucano de Justiça da 7ª Região Militar, a 23 anos de prisão pelo crime de "subversão".

Vivendo em Argel, Arraes se torna referência não apenas para os perseguidos pelo regime militar brasileiro, mas para progressistas de todo o mundo. Com suas credibilidade e competência de articulador político, ajuda os movimentos independentistas das colônias portuguesas da África (Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde), assim como apoia a estruturação das jovens repúblicas fundadas após as lutas de libertação.

Em 30 de março de 1974 comparece ao Tribunal Bertrand Russell II, em Roma, e denuncia ao mundo o regime militar, responsabilizando-o não apenas pela prisão, tortura e morte dos opositores, mas, principalmente, por tornar ainda mais miseráveis as condições de vida da população.

Retornou ao Brasil em 1979, quando foi decretada a anistia pelos militares, pressionados por vários setores da população brasileira. De volta ao Recife, Arraes retomou sua trajetória política, se filiando ao PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro).

Foi eleito deputado federal em 1982 com a maior votação do estado - 191.471 - obtendo quase 20 mil votos a mais que o segundo colocado, Jarbas Vasconcelos.

Em 1986, ainda pelo PMDB, Miguel Arraes foi eleito pela segunda vez para governar Pernambuco. Focou seu mandato na implantação de políticas públicas capazes de corrigir as desigualdades sociais que se agravaram nos anos de regime militar. Iniciou o mais ambicioso programa de eletrificação rural jamais concebido. Fez do microcrédito um instrumento importante de melhoria da qualidade de vida do povo. Fez o estado financiar motobombas para pequena irrigação, vacas leiteiras e máquinas de costura. Dizia: "Nas regiões miseráveis do interior e da periferia do Recife, modernidade é um bico de luz aceso e uma torneira pingando água".

Paralelamente, criou a segunda secretaria de Ciência e Tecnologia do País, bem como a segunda Fundação de Amparo à Pesquisa (Facepe). Comandou campanha de mobilização em favor da implantação de uma refinaria de petróleo em Pernambuco e, em 1996, foi pioneiro ao promover negociações com o governo da Venezuela para formatação de parceria binacional capaz de viabilizar a planta de refino petrolífero no estado. Este plano seria retomado pelo ex-presidente Lula, em 2003.

Em 1990, já filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), do qual foi presidente nacional por três mandatos de dois anos, Arraes foi eleito, novamente, deputado federal. Com 339.158 votos, obteve a maior votação proporcional do país.

Em 1994, foi eleito pela terceira vez governador de Pernambuco. Ampliou o programa de eletrificação rural impondo a meta de 150 mil domicílios rurais ligados à rede de eletricidade.

Quatro anos depois de perder a reeleição para o quarto mandato de governador, Arraes elegeu-se mais uma vez para a Câmara dos Deputados.

Morreu aos 88 anos, no dia 13 de agosto de 2005, no exercício do mandato de deputado, depois de passar quase dois meses internado no Hospital Esperança, no bairro da Ilha do leite, na área central do Recife.

links:

http://institutomiguelarraes.com.br/home/

http://www.fjmangabeira.org.br/miguelarraes100anos

http://www.pe.gov.br/governo/galeria-de-governadores/miguel-arraes-de-alencar/